Durante esta semana que passou, escutei de uma doce e meiga adolescente, de 14 anos, a frase: “Eu não me envergonho de minhas cicatrizes, até gosto delas, pois elas me re-lembram o que eu vivi, o que eu aprendi, até o que sofri…”. Fiquei boquiaberta com tanta maturidade e tanta aceitação do passado, sem maiores brigas ou reservas.
Nem sempre vemos adultos com esse tipo de maturidade e de relação pacífica com o passado, isto permite que a relação com o presente seja tão harmônica e tão plena, que o futuro passa a ser uma realização em longo prazo, sem ansiedade ou antecipação.
Lya Luft pondera que “A maturidade permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade e a querer com mais doçura.”. Ao escutar a frase tão simples e tão profunda, parei e fiquei a refletir como é bela a maturidade, não importa a idade em que nos encontramos. Como é bonito ver alguém em paz com suas vivências, ainda que tenham lhe causado dores, deixado ‘marcas’ e cicatrizes no corpo ou na alma, afinal, somos a soma de nossas vivências, de nossos sorrisos, de nossas lágrimas, de nossas expectativas, de nossos pais, de nossos filhos, somos um conjunto complexo, belo e único desta mistura. Não aceitarmos esta ou aquela vivência é muito perigoso e complicado, pois nos leva a menosprezar o que nos formou e nos impede de aprendermos com nossos erros, mantermos nossos acertos, vivermos o presente e planejarmos o futuro.
Quanto mais maduros nos tornamos, menos discutimos rótulos, menos nos importamos com o exterior, menos necessidade temos de ‘vendermos uma imagem’, ao contrário, quanto mais cresce nossa maturidade, mais nos conhecemos e buscamos a relação de entendimento e de paz com nós mesmos e com o mundo. Como sabiamente pontua o eterno e único Rubem Alves: “Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.”. À medida que amadurecemos, menos nos preocupamos com rótulos, com aparência, ao contrário, buscamos a essência, buscamos estar mais o perto da plenitude que pudermos.”.
A maturidade nos permite exercitar a empatia, a nos colocarmos no lugar do outro, a olharmos a vida com os olhos dele, sem julgamentos, sem fofocas, sem cutucadas, passamos a compreender que, embora pensemos que faríamos diferente se estivéssemos em seu lugar, naquele momento, diante daquela situação, foi o melhor que a pessoa pôde fazer, pois lhe pareceu ser a única saída viável para aquela situação. Passamos a não mais julgar, a não mais termos um comportamento ‘correto’, abandonamos as frases egocêntricas: “Se eu fosse você…”, “Você deveria…”, “Como você pôde agir assim??”, dentre outras que falam tanto mais de quem as diz, do que mostram ou ensinam ao outro. Sim! Quando não somos capazes de olhar o outro, suas razões, quando não buscamos o entendimento e a relação pacífica e amorosa com as pessoas, mostramos que somos intransigentes, que não nos conhecemos e que por esta razão, fomos tão arrogantes em nossos comentários e/ou questionamentos.
Devemos lembrar sempre que não somos exemplos para ninguém, que nossas vivências e nossas experiências nos ajudam a direcionarmos nossas ações futuras, são exemplos para nós mesmos, são lições para nós mesmos. Impor nossas experiências ou vivências ou ainda nossas idéias de ações corretas revelam sobre quanto não caminhamos, não amadurecemos nada, não melhoramos nada. Julgarmos o outro por um erro por ele cometido, que seja diferente dos nossos belos erros “corretos” (sim, erramos sempre!), mostra nossa pequenez, nossa dificuldade de nos percebermos de verdade.
A vida do outro se tornou um ‘aquário gigante’ para observarmos e comentarmos, para destilarmos nosso veneno e a deixarmos claro nossa imaturidade, nossa dificuldade de nos aceitarmos e de vermos nossas ‘misérias’. Sim, somos todos grandiosos, somos todos pessoas boas, mas somos todos cheio de erros, cheio de problemas. Isto nos faz belos e únicos.
Ainda esta semana, assistindo a uma palestra do renomado Clóvis Barros Filho, escutei uma frase impactante, que validou mais ainda a frase de minha pequena/grande adolescente do parágrafo primeiro, diz ele, em sua palestra que “O amor vale mais que a própria vida”. Amar ao outro é aceitar seus erros, é possibilitar sua melhora, a seu tempo, é acreditar que nossos erros, nossos acertos, nossas experiências e vivências nos formam e mediam nossas relações e que por isso mesmo é tudo tão belo, até os machucados que colecionamos, por isso, fica evidente que nossa pequena adolescente é tão madura, tão bela e se aceita, bem como às suas cicatrizes e dores, com tanta tranquilidade que chega a nos enrubescer!
Para encerrarmos nossa reflexão sobre a maturidade, convido-os a refletirmos sobre a vida que vivemos, sobre as vivências que colecionamos, sobre os aprendizados mais diversos, sobre nossos erros também e por fim e não menos importante, sobre nossa relação com o outro, com o erro alheio, com a diferença de pensamento dele para conosco. “Como nos posicionamos? Como agimos? O que falamos e como falamos?”, lembrando que, como nos pontua sabiamente Lise Boubeau: “O que Pedro pensa de Paulo, diz mais sobre Pedro do que sobre Paulo.”.