Como está difícil conviver hoje em dia, como está difícil o contato com pessoas, em geral. Passaram-se os anos, muito mudou, adquirimos conhecimento, aprendemos muito e, inacreditavelmente não conseguimos evoluir como seres humanos.
Há algumas semanas atrás, aqui na cidade, novamente, os pertences de um morador de rua foram queimados, não uma, mas duas vezes (Fonte Página do Projeto JUNTOS PARA O BEM). Quem nada tinha, perdeu inclusive a ‘calçada’ que usava para dormir, por medo. Conseguimos retirar dele, o pouco que ele tinha, causar nele mais sofrimento que a vida já causa. A pergunta não é por que, mas sim: como conseguimos fazer isso?
No final do mês de Agosto um conjunto de moradoras de João Pessoa solicitaram à uma vereadora da cidade que o Projeto Acesso Cidadão, que viabiliza pessoas portadoras de deficiência a frequentarem praias da cidade, fosse suspenso na Praia do Cabo, pois as atividades estavam “incomodando e tirando a beleza natural do lugar, onde moram pessoas ilustres” (Fonte Revista Veja).
Assistimos atônitos uma revista em quadrinhos (HQ) de super-heróis, datada de 2007, indicada ao público adolescente ser censurada por conta de um beijo gay, ocorrido entre dois personagens. Tal beijo encontrava-se no meio da Revista, não era o ponto central da história, mas apenas um beijo, como outro qualquer. Foi preciso que a Bienal do Rio de Janeiro travasse uma batalha judicial para conseguir vender tal quadrinho, que, repita-se, não era destinado a crianças, mas ao público adolescente. Em Setembro de 2019, deparamo-nos com o filme ‘Marighella’ de Wagner Moura tendo seu lançamento cancelado no Brasil por problemas com a Ancine. A saber: Carlos Marighella foi um político, escritor e guerrilheiro comunista marxista-leninista brasileiro e um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira (1964–1985), Marighella chegou a ser considerado o inimigo “número um” do regime. Foi cofundador da Ação Libertadora Nacional, organização de caráter revolucionário.
Será que não vamos aprender sobre o respeito aos menos favorecidos (como, por exemplo o morador de rua citado acima), ou ainda não vamos ver que a beleza de cada um de nós, passa longe de ser apenas um atributo físico, ou ainda será difícil respeitarmos o amor e sua diversidade? Será que não poderemos assistir a um filme que trata de parte de nossa história? Por que não podemos, de forma natural decidir se compramos ou não o HQ ou se vamos ou não ao cinema para assistir a um filme?
Senhoras e senhores: 2019! Pensando nos acontecimentos que citei, me lembrei não uma, mas algumas vezes de Mário Sérgio Cortella, um dos pensamentos dele de que me lembrei foi: “É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal.”
É necessário sim, começarmos a olhar para coisas e atitudes que não são ‘normais’ ou aceitáveis! É necessário que possamos aceitarmos ao outro, sua maneira de ser, que possamos acolher ao nosso semelhante em suas dificuldades e em suas tristezas. É preciso que olhemos além das aparências que se nos apresentam, como se estas definissem alguém. Somos mais que isso, somos mais complexos e mais completos que isto.
Além de nos respeitarmos, é importante que busquemos ‘trocar idéias’, conversar, aprender a ouvir, a falar, pois só desta forma poderemos crescer e evoluir cada dia mais.
Encerro com uma frase impactante de Cortella, para nossa reflexão: “Há um ditado chinês que diz que, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, ao se encontrarem, eles trocam os pães; cada um vai embora com um. Porém, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia, ao se encontrarem, trocam as idéias; cada um vai embora com duas. Quem sabe, é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir idéias, para todos terem pão…”