Meses e meses isolados em casa, saindo para fazer estritamente o necessário, mas sem esquecer máscara, lavar mãos antes de sair, passar álcool em gel, não dar beijinho, não dar abraço ou aperto de mãos, manter a distância, daí voltar para casa, retirar sapatos, roupas, tomar banho, cuidar para não ficar exposto ao Covid 19, esta tem sido a rotina da maior parte dos brasileiros durante a maior parte dos meses de 2020.
Agora, com a aparente redução do contágio, do número de casos, com as cidades saindo das fases vermelhas e passando para laranja ou amarelas, comércio abrindo, Igrejas, cinemas, teatros funcionando outra vez e surge uma mistura de felicidade com medo e angústia.
Este fenômeno psicológico é conhecido como “Síndrome da Cabana” e foi descrito pela primeira vez em 1900 nos Estados Unidos, em referência a caçadores que ficavam por muito tempo isolados durante invernos rigorosos e encontravam dificuldades de socialização no retorno à sociedade, explica a Psiquiatra Ana Carolina Pieretti.
Para ela, no contexto atípico da pandemia é preciso estar atento às respostas individuais de cada um com a imposição do “novo normal”, uma vez que as pessoas vão apresentando nova forma de lidar com a dificuldade de controle, a medida em que podem pensar: ‘Deixa eu ficar na minha casa. Aqui eu sei que está tudo limpo, que higienizei tudo’.
“É lógico que sentir um pouco de ansiedade é normal ao ser confrontada com essa necessidade de sair e entrar em contato com outras pessoas, mas se isso chega a impedir completamente essa pessoa de comprar um item de necessidade ou de trabalhar, pode ser que estejamos diante de algo mais problemático”, alerta Pieretti.
Síndrome da cabana, apesar do nome parecer uma doença emocional/psicológica, não é uma doença e nem é considerado transtorno mental, mas sim um acometimento, um estresse adaptativo entre pessoas que possam passar por dificuldades emocionais ao ter que sair do estado de retiro em sua casa e voltar às atividades presenciais no trabalho, às compras no comércio ou tenham que comparecer a uma repartição pública.
“Eu tenho pacientes que ainda estão muito angustiados por não ter vacina contra a Covid e a vida estar voltando à rotina de trabalho”, relata a psicóloga Célia Fernandes em entrevista a UOL.
A transição de sair do ambiente confortável, e controlado, para o mundo lá fora pode soar como uma coisa ameaçadora, assustadora. A pessoa pode sim ter dificuldade em retomar essas atividades e sofrer.
Para as pessoas com síndrome da cabana, a casa é o melhor lugar para estar, explica a psicóloga Ana Carolina de Araujo Cunto: “Quando o mundo lá fora passa a ser ameaçador, seja por quais razões forem, a casa representa um lugar de proteção. Onde me sinto bem, onde estou protegido e onde consigo ter o controle das coisas.”.
De acordo com Psicólogos a retomada das atividades pode ser pouco produtiva no momento inicial.
Desta forma, as pessoas devem ficar atentas aos sinais de ansiedade, medo e até pânico. Pode haver desconfortos como taquicardia, sudorese e dificuldade de dormir, além de alterações no apetite.
Buscar apoio em rede de amigos ou familiares para a retomada das atividades e para a saída de casa pode ser uma estratégia para este enfrentamento, outra estratégia eficaz é ir e aproximando da rua aos poucos, saindo até a calçada da frente de casa, ou até a portaria, depois indo até a padaria do bairro e assim por diante.
“Se a pessoa perceber que não está conseguindo ultrapassar suas dificuldades, e que isso se tornou uma coisa maior e paralisante, a ponto de não conseguir cumprir com as atividades fora de casa, então acende uma luzinha de que precisa olhar para isso com mais cautela. Se não consegue fazer isso sozinha, é recomendado que busque uma terapia para conseguir entender se tem alguma raiz mais profunda”, acrescenta Cunto.
“Vamos fugir deste lugar, baby! Vamos fugir, tô cansado de esperar, que você me carregue…” SKANK