Não é raro hoje em dia ‘trombarmos’ com brigas, desentendimentos, desencontro de informações, com pessoas irredutíveis em seus pontos de vista ‘corretos’, todos sempre querendo ter razão, ninguém querendo ceder.
A impressão que tenho é que todos “nasceram com a razão”, que ninguém está errado nunca, por isso, ‘batem de frente’ uns com os outros, as brigas ocorrem e cada um ‘bate o pé’ da maneira mais imatura que consegue.
“A finalidade da comunicação é fazer-se entender. Mas há quem prefira se desentender. ”, afirma Augusto Branco e é exatamente assim. Hoje em dia impera a necessidade de termos razão, de ‘vencermos a discussão’. Não queremos mais debatermos sobre uma ideia, conversamos sobre um tema, aprendermos algo novo e ensinarmos algo novo também.
Todos temos razão, estamos corretos, somos certos; nossos pontos de vista são os melhores e os mais certos, somos tão certos, mas tão certos, que não nos permitirmos conhecer o outro lado da moeda, preferimos a prisão em nossa ignorância arrogante e segura.
Essa irredutibilidade, essa inflexibilidade, essa intolerância nos leva onde? Será que ela nos ajuda a construir um mundo melhor? Um ambiente melhor para nossos filhos? Que exemplo damos?
Sabiamente Mahatma Gandhi nos diz que “A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos. ”, ou seja, nossa verdade é válida para nós, apenas. Minhas certezas são válidas para a minha vida. Minha religião é a melhor do mundo para mim, mas nada disso é absoluto, nada é soberano.
Deveria imperar e ser soberana a tolerância, o diálogo, a compreensão e a aceitação. Sim, eu posso não gostar desta ou daquela maneira do outro viver sua vida, do outro pensar, do outro ensinar seus filhos, mas preciso aceitar que é direito dele fazê-lo e que isto deve fazer algum sentido para ele (a).
Às vezes, se eu não pré-julgar o outro, sua ação ou seu pensamento, pode ser que isto passe a fazer sentido para mim também, pode ser que eu perceba que é uma ação acertada, um pensamento coerente ou um ensinamento ético.
Como Voltaire disse certa vez: “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-la. ”, o que isso nos diz? Nos diz que meu direito à palavra, ao meu pensamento, à minha maneira de ser é exatamente igual ao direito do outro à palavra, pensamento e maneira de ser e nada, mas nada mesmo justifica uma atitude de intolerância e de não aceitação ao outro.
“Áh, mas não faz sentido defender essa ideia”, “Ah, mas fazendo assim ensina errado”, “Áh, não acredito nesta maneira de ensinar”, “Ah, mas….”, perceberam? Sempre é uma frase absolutamente egoísta, presa a pensamentos de senso comum, absolutamente não embasadas em nada, até porque, para existir algum embasamento, há que se passar por questionamentos diversos, há que se responder estes questionamentos, há que se ouvir ao outro.
Então, fica o convite: Vamos evoluir em nossas relações? Vamos acreditar verdadeiramente que o outro pode ser, agir, acreditar e ensinar de forma tão diferente da minha, mas também ser correto, coerente e merecedor de ser escutado com seriedade e credibilidade?
Vamos descobrir tudo que nossas diferenças podem ensinar e tudo que podemos aprender com elas.
Vamos desconstruir conceitos que, às vezes, fazem apenas mal ao outro e a nós mesmos.
Em tempos de tanta dificuldade como os de hoje, se pudermos contar com a aceitação, com a tolerância, com a paz na troca de ideias e até mesmo na divergência de ideias, talvez passemos por estes tempos menos doloridos, menos machucados, machucando menos, causando menos dor e sobretudo, dando estes exemplos para nosso futuro, para nossas crianças, que, SIM, crescem e aprendem muito mais com nossos exemplos do que com nossa fala.