Rubem Alves, sempre sábio e pontual já nos alertava que “todas as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua: toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!”.
Quantas e quantas vezes ouvimos que somos queridos, que podemos contar com as pessoas ‘para o que der e vier’, que somos amados, que tudo vai ficar bem ou ainda que se precisarmos de ajuda, é só pedirmos?
Infelizmente tais palavras são bonitas, fazem do discurso bonito, afaga o ego de quem as diz, mas sem ação, tornam-se ‘ocas’, além de cruéis.
Passamos todos por situações difíceis, algumas vem devastadoras, ficam uns dias e vão embora, deixando-nos com a dor de cabeça para arrumar os estragos, outras são relativamente fracas, mais ‘suaves’, mas duram, mas parecem não ter fim, parecem que grudaram em nós e nos acompanharão por toda a vida e para elas, nos cabe, dia após dia, fazermos ajustes, arrumarmos uma coisa aqui, outra ali, nos adaptarmos, nos fortalecermos.
Tanto uma quanto a outra são complicadas, são chatas, são doloridas, são difíceis, mas são “superáveis”, isso quer dizer que poderemos vencer a cada uma delas, porém, elas demandam esforço, paciência, resiliência, dedicação, demandam não desistir, não ‘jogar a toalha’, pois minam nossa energia e nossas forças e muitas vezes levam nossa esperança em dias melhores.
E como é bom, quanto nos ajuda sabermos que temos com quem contar, que existem aquelas pessoas especiais em nossa vida, que são palavra, apoio, cuidado, escuta, que nos enxergam e às nossas dores, apesar dos sorrisos e da aparente imagem de força que apresentamos. Como é bom sermos acolhidos com palavras de afeto, com preocupações genuínas, com carinho gratuito. Tudo fica mais fácil quando acompanhado de amor, de carinho, de escuta, de cuidado.
Nos sentimos acolhidos, amados, importantes quando escutamos: ‘quer conversar?’, ‘se precisar, pode contar comigo, não precisamos dizer nada, estou aqui’, ou ‘posso te ajudar?’. É sempre bom encontrarmos alguém que nos acompanhe na caminhada da vida, que nos ajude a carregar os fardos pesados que surgem, que seja um ombro amigo e uma escuta carinhosa.
Francis Bacon afirmava categoricamente que “a amizade duplica as alegrias e divide as tristezas.”. E tem razão! Quem consegue ter um amigo para dividir as angústias, para desabafar, para ser ouvido com carinho e sem julgamento, para poder rir junto, para dividir vitórias, para não deixar que sucumba diante das derrotas, tem muito.
Sempre que pudermos, sejamos a pessoa que oferece a mão amiga, que oferece a escuta, que oferece o amor, que é compreensivo, que é leal, que está sempre ao lado do outro.
Iniciei e encerro com Rubem Alves e seu pensamento incrível: “Amigo é alguém cuja simples presença traz alegria independentemente do que se faça ou diga.”