Quando falamos em perdão, em geral nos vem à mente uma grande ‘mancada’ do outro, que exigiria de nós enorme esforço e abnegação para que perdoássemos, quase como se fôssemos um monge…
Mas não, semana passada, em meio aos preparativos para comemorações de final de ano, ‘trombei’, na verdade, recebi uma trombada de um ser primata, selvagem mesmo, absolutamente não civilizado, de respostas fora do padrão de tão chulas e grosseiras, de uma dificuldade de entendimento do óbvio e uma ausência total de educação, que fiquei boquiaberta. Meu instinto de responder ‘à altura’ e ajudar a pessoa a encontrar o caminho da educação, foi substituído, por conta do susto mesmo, por um silêncio.
Passado o susto inicial, veio à raiva de mim mesma: “Por que não respondi? ”, perguntei-me insistentemente por algumas horas. Depois, quase que num esforço compensatório e sobre-humano, achei uma resposta “tapa buraco”: “Foi melhor assim, evitei a fadiga e uma briga que não levaria a lugar algum”. Pronto! Tinha a resposta para uma ação tão diferente das minhas usuais ações, que normalmente são responder sim, sempre! Não à altura, pois não desço tão baixo, mas sempre respondo, de modo a deixar o outro minimamente ‘sem graça’. Sempre respondo, eu disse? Não, sempre respondia.
Até aí você deve estar pensando: Que bom, acabou a história, ela mudou de comportamento, aprendeu um novo, que legal! Mas e o perdão nessa, onde entra? ”, pois é…. a história não acaba aí. Passados estes primeiros momentos, veio a raiva de mim mesma. Me questionava: “Como assim, ficar calada, engolir aquele monte de sapo à toa, de um ser bárbaro, vivendo quase que à margem da sociedade, tão primitivas eram suas respostas? ”, passei um bom tempo, perdendo tempo com o tal fato! Me importando com tudo isso. Chegou a me dar dor de cabeça e neste momento, parei e pensei sobre como eu estava me incomodando tanto com um assunto, enquanto a própria autora da barbárie nem deveria ter se dado conta do ocorrido e deveria estar dando boas risadas e tocando sua vida bárbara e primitiva normalmente.
Imediatamente me veio à mente o pensamento de Mirlan Hellowell Eiffel, ela diz “as vezes precisamos perdoar, quem nunca foi capaz de nos pedir perdão. ”. Exatamente, precisamos perdoar, não porque a pessoa nos pediu perdão, não por merecer perdão, mas sim porque nós não merecemos guardar este sentimento ruim dentro de nós. Porque nós precisamos nos ver livres do sentimento ruim, das lembranças ruins, da raiva…. Nós precisamos sacudir a poeira e seguir em frente!
O perdão é libertador e faz muito bem a quem perdoa. Sempre escutei isso, mas só senti mesmo o bem que me fez, quando eu, pós me consumir com meu silêncio ‘fora do comum’ e de minha raiva com isso, da minha raiva da criatura primata e bárbara, comecei a pensar que eu estava sofrendo e me amargurando sem motivo, que ela teria seus motivos para ser desta forma. Pode ser que tenha lhe ‘faltado mãe’, como diziam os antigos. Não que a mãe não estivesse ali, mas pode ter lhe faltado uma mãe que a educasse, pode ser que a mãe tenha tentado, mas ela tenha se desviado totalmente do caminho ensinado, às vezes lhe foi ensinado, ela aprendeu, mas a vida tanto bateu que sua saída para sobreviver foi se tornar bárbara, primitiva, ou ainda, nenhuma opção acima, mas sim: eu e ela não combinamos, gosto de ‘por favor’, ‘obrigada’, gosto de manter a conversa (ainda que não haja convergência nos assuntos) em um nível adequado e educado, então não podemos ‘ser amigas’ e nem ter contato, mas a raiva não se encaixa neste contexto e sim o perdão à ela que me ofendeu, tanto faz se foi proposital ou se foi não intencional.
Encerro deixando um lindo Provérbio judaico sobre perdão para nossa reflexão e sobre o papel desta atitude tão importante em nossa vida: “Se você se vinga, estará a regredir. Se sabe perdoar, estará a progredir. ”