‘Era uma vez uma família feliz, uma vida tranquila, mas de repente, eis que ploft vem a tempestade, forte e implacável… que vontade eles têm de ficar ali, escondidos, esperando tudo acabar, protegidos…’
Ainda na faculdade, durante uma aula, estávamos discutindo sobre os piores momentos que passamos na vida, sobre as dificuldades, sobre como ficamos tão absorvidos por elas, que, muitas vezes, temos a sensação de que ficaremos ‘presos’ a elas para sempre. Em meio ao debate, a mestra, em sua sabedoria, serenidade e calma usuais, escreveu em um canto da lousa: “Isso também vai passar…”, após isso começamos a refletir juntos sobre o que esta frase significa e sobre a necessidade termos em mente que todos os momentos que passamos na vida vão embora o tempo todo, pois a vida é um movimento constante. Não somos estáticos, tampouco nossa vida o é.
Pesquisando sobre a frase tão pequena, mas tão impactante, descobri que há uma pequena parábola, cujo autor desconheço, para ela. Diz a parábola: “Havia um homem que costumava ter em cima de sua cama uma placa escrita: Isso também passa… então perguntaram a ele o porquê disso e ele disse que era para quando estivesse passando por momentos ruins, poder se lembrar que eles iriam embora e que ele teria de passar por aquilo, por alguma razão. Essa placa também era para lembra-lo que quando estivesse muito feliz, que não deixasse tudo para trás, porque esses momentos também iriam passar e momentos difíceis viriam de novo. ”
E desde então, esta frase me acompanha em todos os momentos, especialmente nos difíceis (já que os momentos bons da vida poderiam nunca passar).
Durante essa semana, me peguei refletindo muito sobre as dificuldades que passamos, sobre os momentos difíceis, que nos dão a sensação de serem intermináveis e sobre como manter em mente que eles passam, que passamos por tudo e aprendemos muito e descobrimos nossas forças, nossos apoios, nossos amigos …
Existe um livro espetacular que fala exatamente sobre este assunto, sobre o que fazemos com nossas dores, nossas cicatrizes e tempestades que enfrentamos, chama-se “Ostra feliz não faz pérolas”, do queridíssimo Rubem Alves.
No livro ele nos diz que “A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para se mesma: preciso envolver essa areia pontuada que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire pontas. Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída. Por vezes a dor aparece como aquela coisa que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi”, Rubem Alves.
Decidi escrever sobre essas ‘areias pontudas’, não para discutirmos sobre dores e tristezas, mas sim, para pensarmos sobre o que estamos fazendo com as elas.
Vontade de ficar quieto em um canto, protegido, esperando tudo passar, existe, claro, mas não funciona, evidentemente e também nada ensina.
O ponto central de todas as dificuldades que passamos é buscarmos a solução para este problema, buscarmos encarar essa dor de frente, chamando-a pelo nome, não mais fugindo dela. “Não posso chorar ?”, vocês podem estar perguntando, sim, podemos chorar, nos chatear, podemos ficar tristes, mas precisamos olhar o todo, buscar saídas …
Como disse uma grande amiga: “Nos momentos difíceis que vivemos, precisamos ser gratos por toda nossa vida, pela vida dos que nos cercam e, inclusive, por estes momentos, pois eles vieram por alguma razão, significam algo, ensinam muito! ”.
Diante deles, devemos (sem esquecer que eles irão passar) abaixar a cabeça, respirar fundo, tomar fôlego, encarar tudo de frente e seguir firmes em direção a solução do problema. Não precisamos fazer tudo sozinhos, podemos e devemos contar com a ajuda dos que nos amam, com a ajuda profissional. Estar amparado nos momentos de tempestade não reduz nossa coragem, nosso esforço e o tamanho de nossa vitória, ao contrário, reafirma a ideia do ‘juntos somos mais’.
Encerro convidando-os a refletir sobre as adversidades que passamos: “A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” Horácio