Os últimos dez dias foram dias complicados para nós, brasileiros, pois enfrentamos uma crise grave de desabastecimento no País, em virtude da greve dos caminhoneiros. Ficamos em falta de combustível, gás, alguns alimentos perecíveis, alguns insumos hospitalares, ficamos zerados de respeito ao outro, tolerância, empatia, compreensão, escuta …
Tal crise nos relembrou que os caminhoneiros são uma classe fortíssima, que seu trabalho nos é de vital importância, mostrou o despreparo total de nosso governo para lidar com situações de crise, afinal, foram mais de sete dias de greve e mostrou-nos como somos mesquinhos, desunidos, prontos para acusar e apontar o dedo aos demais. Nos ‘esfregou na cara’ que pedimos respeito e nos chocamos com a violência, mas que desrespeitamos e somos violentos com os que pensam diferente de nós.
Lemos atônitos: “Quem abastece é “&#@&”, porque não está apoiando a greve! Ande a pé, não trabalhe, pare seu carro!”, lemos: “Caminhoneiros são vagabundos, passem com os tanques por cima deles!”, “Não compre gás, cozinhe de outra forma!”, “Brasileiro é um lixo, não é unido, quer continuar sendo roubado, porque não abre mão de andar de carro, tomara que pague R$10,00 no litro de gasolina.”. Testemunhamos brigas horríveis, palavrões horrorosos em redes sociais de pessoas querendo “conscientizar e convencer” as demais a aderirem à sua maneira de pensar e de agir, ainda que na força, no grito, na acusação e/ou palavrões.
Muitos de nós fomos obrigados a enfrentar filas e passar 2, 3 horas até abastecer. Por comodidade? Li em uma dessas discussões de rede social que quem ficava nessa condição era burro, vagabundo e não abria mão do carro para dar um ‘rolê’. Oi?? Puxa vontade de dar um ‘rolê’, hein??
A questão que levanto aqui não é o mérito da greve e da reivindicação dos caminhoneiros, uma classe sofrida, que trabalha duro, sob condições difíceis, pagando um preço altíssimo por tudo, mas sim a intolerância, a violência, a incoerência e a falta de empatia que demonstramos nestes dias.
Voltaire dizia sabiamente: “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la.”, tal frase sempre me impactou muito e penso que deveria ser um norteador de nosso convívio em sociedade.
Sim, prezados, não há a menor necessidade de pensarmos igual, nem mesmo parecido, não precisamos concordar uns com os outros, podemos achar absurda a atitude do outro, podemos até detestar essa atitude, mas não podemos exigir que todos pensem, ajam, falem, façam como nós o fazemos ou queremos, é preciso respeitar o direito do outro de ser como é, de pensar como pensa, de agir como acha que é correto e que deve agir.
Mais ainda que isso, é preciso que sejamos empáticos uns com os outros, ou seja, sentirmos o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. Precisamos, portanto, buscar entender às razões dos caminhoneiros para a paralisação que fizeram, tentarmos entender o que sofrem, o quanto lutam e como têm sido consumidos (assim como nós, brasileiros em geral) por taxas, preços, aumento de preços, corrupção e etc. Precisamos também buscar compreender que, muita gente não pode ser dar ao luxo de não abastecer, de não comprar um botijão de gás, por isso as filas enormes que presenciamos. Não eram pessoas atrás de ‘rolês’ e de garantir o bolo de fubá do café da tarde, mas sim, pessoas que sofreram para conseguir efetuar essas compras (com preços, muitas vezes, muito acima do que deveria ser praticado), pois dependem destes produtos. É preciso respeito!
Como estamos carentes de respeito ao próximo! Como está difícil emitir uma opinião! Quanta gente cheia de razão, correta, que deveria ter suas ideias seguidas pelos demais, sem qualquer questionamento!
Mas e o livre arbítrio (possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante)? Temos o livre arbítrio, sim, podemos decidir entre apoiar ou não uma causa, entre abastecer ou não, comprar gás ou não, pagar R$7,00 no pé de alface ou não e seja qual for nossa decisão, devemos ser respeitados, assim como, seja qual for a decisão do outro, é nosso dever respeitar.
Podemos e devemos conversar. Também podemos discordar de forma madura, polida, educada uns dos outros. Podemos e devemos refletir juntos sobre o que se passa em nosso País, em nossa cidade, em nosso trabalho e a partir deste esse debate/reflexão até reorganizarmos nossa maneira de pensar, de agir, pois a reflexão conjunta nos ajudou a ver as coisas de outra maneira!