Durante esta semana, me peguei refletindo sobre como estamos retrocedendo em nossas relações humanas, em todos os sentidos.
Perdemos a capacidade de sermos empáticos. Muitas pessoas são ainda um pouco empáticas, outras perderam, deletaram esta capacidade de sua ‘listinha de características’. O que dizer de uma secretária de escola que impede uma criança de ligar para a mãe, ao final do ensaio escolar (marcado pela escola dentro da mesma) para busca-la, mas manda que a mesma saia procurando um telefone de alguém para usar emprestado; a criança não tendo conseguido, após pedir a algumas pessoas, passou quase 3 horas sentada na escola, pois como era um ensaio longo, disse à mãe que talvez demorasse bastante, até que após um último pedido à secretária, leva uma bronca, recebe o aviso que esta será a última vez e pode fazer a chamada de 10 segundos: “Mamãe, pode vir!”.? Parece um fato de dramaturgia, inventado para ilustrar o quando retrocedemos, mas, infelizmente, é verídico. Por mais triste que pareça.
Essa moça logicamente não usou da empatia, aquela velha e boa definição de Rogers: “Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.”, mas nem de longe ela olhou para o que a criança em questão estava vendo, sentindo e passando… Não era problema dela o sentimento, o cansaço, a vergonha, a fome, a ansiedade da mesma, portanto, seguiu ali, fazendo seu trabalho, tranquila.
Infelizmente a moça em questão não é o único exemplo dos absurdos que vemos em nossa convivência com as pessoas. Aceitar o outro ficou difícil, quase impossível, “só o aceito se for como eu sou”, “só está certo quem concorda comigo, me elogia e fica satisfeito comigo! ” difícil, hein? Opiniões diferentes, são veementemente rebatidas, como se fossem uma guerra a ser vencida! Transformam quem as dá em pessoas chatas, intransigentes, ‘reclamonas’, difíceis. “É que Narciso acha feio o que não é espelho” (Sampa – Caetano Veloso).
Por que esta dificuldade em conviver e aceitar o que difere de mim e de minha forma de pensar? O que te faz pensar que você é fonte única de razão no Universo? Amigo, você não é!
Muitas são as formas de pensar, muitas são as religiões, muitas são as diferenças de criação, de valores, de normas. Isto não constitui um problema, na verdade, isto se chama DIVERSIDADE, algo que não nos faz sermos produções em série de um mesmo modelo pré-moldado, isto é, a diversidade, nos faz crescer, evoluir, nos faz pensar, refletir, nos ajuda a mudar, a rever conceitos, nos faz ensinar, ser exemplo e tomar tantos como exemplos.
Ser empático não é sinal de ser fraco, ao contrário, é sinal de ser muito forte, muito consciente de sua posição e de como sua ação afeta o outro, positiva ou negativamente. Apesar de não concordar com você, preciso defender seu direito de ser como você é, não dizer: “Mude para que gostem de você!”. Se isto vier de uma criança, é preciso correção, conversa, exemplos, mas se isto vier de um adulto, é grave, desanimador, é sinal de que as coisas caminharam e caminham mal.
E enquanto pensava sobre esta coluna, li um texto publicado por uma colega de profissão, excelente, muito feliz em seus textos e reflexões, muito competente e ela falava da empatia e da compaixão. Que coisa incrível!! Em seu texto, incrível, diga-se de passagem, ela dizia que além de aprendermos a ser empáticos, precisamos conhecer a compaixão, que ela define, de forma bastante simples como o “desejo de confortar o outro, fazer pelo outro. Sem, necessariamente, sentir o que o outro sente.”. Larissa Zeggio.
Sim, além da empatia, precisamos ter compaixão, isto é olhar com os olhos do outro e fazer por ele, ainda que não tenha me sentido exatamente como ele, pois isto é ver o outro, pois isto aquece as relações, pois isto nos edifica enquanto seres humanos, transforma as relações, melhora os relacionamentos, muda aquele ambiente.
Voltando a fatídica moça da secretaria, ainda que não tivesse se quer pensado como a criança se sentiu, poderia ter usado da compaixão e feito o telefonema, apenas porque a criança estava dizendo que precisava muito e que estava cansada demais.
Isto é o que a Larissa Zeggio chama, de forma muito acertada, de ‘habilidades socioemocionais’, isto é a capacidade de vermos e sentirmos determinada situação como o outro o faz e exercitarmos a compaixão, que é o desejo de fazer pelo outro, de auxiliar, de reduzir o sofrimento, de melhorar algum aspecto da vida deste. Compaixão, meus amigos, compaixão!
E não espere elogios por sua empatia e compaixão, não espere que o outro fique lhe elogiando, lhe dando ‘estrelinhas douradas’ por ter sido um bom ser humano! Faça porque acredita que deve fazê-lo, faça porque ver o outro bem é sua ‘estrelinha dourada’, faça porque é o mínimo que podemos fazer, não faça esperando um e-mail satisfeito, uma ‘estrelinha dourada’, um elogio…
Finalizo com uma reflexão muito interessante para o texto e para o momento: “Tenha compaixão, ajude os seus companheiros em qualquer oportunidade. Se a oportunidade não surge, saia do seu caminho para encontrá-la.” Código Samurai