“A pessoa quer receber comida, roupa, uma ajuda, e não quer nenhuma responsabilidade. Isso está muito errado. Se a gente quer viver em um país…”, diz Bia Doria, que é interrompida por Val Marchiori, que diz “todo mundo tem suas responsabilidades”.
Falas que acompanhamos durante a semana que passou. Frase que me chocou. Em um momento tão difícil como o de agora: Pandemia, crise econômica, inverno começando e escutamos da esposa do Governador de São Paulo proferindo tais palavras em um papinho com uma amiga.
Me perguntei: “O que deu tão errado com essas pessoas? Como podem ser tão cruéis e tão maldosas?”
A pessoa não quer receber comida, roupa e ajuda, na verdade, precisa receber ajuda, pois nada tem, a começar pelo teto, que é o mínimo necessário a sobrevivência. Vivem nas ruas não pelo prazer que esta condição lhes proporciona e sim por não ser a única opção que lhes restou. Morando nas ruas, não conseguem trabalho, lhes falta higiene, lhes falta alimentos, lhes falta roupa, lhes falta remédio, não existe um mínimo de conforto e lhes sobra humilhação e medo. Precisam pedir moeda, trocado, comida, coberta. Vivem sujos, à margem, não são vistos, na maior parte das vezes e ainda foram alvos de uma fala cruel desta. Tão cruel que sugere lhes tirar o pouco que conseguem ganhar (da solidariedade de poucos) para manterem-se sobrevivendo parcamente.
A ‘socialite’ desculpou-se por tamanha crueldade depois da péssima repercussão do tal vídeo nas redes sociais. Muito tarde, ainda assim. Ficou muito clara a falta de empatia, a dificuldade de se colocar no lugar do outro e compreender tamanho sofrimento.
Não sejamos estas pessoas. Não pensemos como elas. Não ignoremos o outro e o sofrimento alheio. A dor do outro precisa nos impactar, precisa nos mobilizar.
A empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.
A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais.
Com origem no termo em grego empatheia, que significava “paixão”, a empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos.
“Veja o sol, mesmo com nuvens escolheu aparecer, então, você mesmo sofrendo tem que escolher crescer. Do mesmo lugar que você, eu vim, como você, ao pó eu voltarei. Você é igual a mim, então, faça por mim, o que faria a você ê-ê-ê-ê, o que faria a você ê-ê-ê-ê” Priscilla Alcântara, canção cujo nome é Empatia.
Que possamos exercitar a empatia, que possamos enxergar o outro, a partir da visão dele, que possamos compreender que olhando de fora a vida e a dor alheia ou sob nossa própria ótica, com nossos ‘óculos’, não seremos capazes de sermos empáticos, de ajudar e de acolher o sofrimento alheio, ainda que nos pareça ‘bobagem’, coisa ‘de fácil solução’, etc.
Encerro com um convite a reflexão, a partir de um pensamento de Guimarães Rosa: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”