Quantas vezes durante nossa vida nos agarramos a alguém, alguma coisa ou situações por muito tempo, pelas mais diversas razões e permanecemos ali, sofrendo e estagnados, tendo a sensação de estarmos girando em círculos, sem sair do lugar.
Mas por que fazemos isso? Por que insistimos em permanecer em um emprego que nos causa dor e sofrimento, que nos faz odiar 5 de 7 dias da semana, que nos leva à depressão do domingo à noite; Por que continuamos a investir em um relacionamento fracassado, que não nos traz felicidade, um relacionamento sem sintonia, sem boas risadas, sem admiração, sem respeito; Por que nos apegamos a sentimentos, pensamentos e planos ruins, que causam dor, angústia, que não nos permitem evoluir, crescer e sorrir?
Muitas vezes, o medo do novo, o medo da mudança, o medo da tomada de decisão, a angústia de encarar o desconhecido, de abandonar velhos hábitos, amores passados, sofrimentos envelhecidos, nos faz permanecermos agarrados, dependurados ao passado, evitando o futuro, perdendo a chance de novos sorrisos, de bons sentimentos, de amores frescos, de trabalhos desafiadores e que nos encham de motivação.
“Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar em vão, para trazer a linha de volta. É aceitar doer inteiro até florir de novo.” Caio Fernando Abreu
Sim, há momentos na vida em que precisamos soltar, deixar ir, nos libertar de algo que foi muito bom, que existiu, que nos marcou, mas que agora nos faz sofrer para permanecer como era, que nos custa muito trabalho e muita luta para ser como era antes, que nos desgasta, nos enche de angústia, nos suga força, saúde, jovialidade, nos tira o sono, nos envelhece a alma.
Sim, tudo muda, a vida segue em constante movimento, o tempo todo. Mudar faz parte do nosso crescimento. Somos e vivemos em constante mutação, a partir do momento em que nos conscientizarmos desta realidade desafiadora, sairemos de nossa zona de conforto com mais tranquilidade.
A mudança pode significar uma oportunidade para fazer diferente, para conhecer pessoas diferentes, para aprender e fazer coisas novas …
As mudanças nos ensinam, nos ajudam a crescer, nos preparam para os desafios, para os revezes, para as perdas, para as traições, para a doença, para a velhice …
De acordo com o médico Enio Burgos, autor do livro “Medicina Interior – A medicina do coração e da mente” (Ed. Bodigaya), “a compreensão sobre o funcionamento da mente e a transformação dos sentimentos negativos em sabedoria são as formas mais efetivas de praticar o desapego. O autor indica que pensamentos e sofrimentos gerados pelo apego excessivo afetam a saúde do corpo. Assim, precisamos transformar as emoções perturbadoras básicas (apego, raiva, indiferença, orgulho e inveja) em sabedoria e plenitude de vida.”
Aparentemente parece muito difícil (quase impossível) transformar (abrir mão) de emoções perturbadoras e transformá-las em sabedoria. Só é difícil, pois temos a falsa sensação de que ‘pelo menos com elas sabemos lidar’ ou ainda ‘se está difícil com o que conhecemos, imagine com o desconhecido’ ou ainda ‘não consigo deixar de me sentir assim, afinal, foi um sofrimento grande’, dentre outras frases que apenas nos impedem de evoluir, de mudar e de deixar de sofrer, nos agarrando a algo que precisa ir.
Uma vez que a mudança é constante em nossa vida, estarmos preparados para ela e não resistirmos é de fundamental importância para sofrermos menos.
Para tanto, devemos permitir vivenciarmos nossos sentimentos e pensamentos e aceita-los. E devemos ter claro que não somos os nossos sentimentos, nem pensamentos.
Quando nossa mente produz pensamentos que são angustiantes para nós, num primeiro momento devemos apenas observá-los. Não precisamos acrescentar mais nada a esses pensamentos ou julgá-los, somente deixá-los vir à tona e passar por nossa mente. Não devemos fugir do que estamos passando, não devemos disfarçar ou mudar nome, ao contrário, devemos nos permitir viver e conhecer tais momentos. “Medicina Interior – A medicina do coração e da mente”
Não precisamos passar pelas mudanças e praticar o desapego sozinhos, podemos e devemos buscar amparo e ajuda se precisarmos, pois quanto mais nos conhecermos, quanto mais soubermos sobre nós mesmos e de nosso funcionamento, tanto mais passaremos por tais metamorfoses aprendendo mais sobre nós e nossas vidas e desapegando do que faz parte de um passado, sem um sofrimento atroz.