“A vida se repete exatamente naquilo em que ela é miserável: medo, inveja, baixa autoestima e abandono”. Luiz Felipe Pondé
Vivemos um momento extremamente diferente de todos os momentos vivenciados antes. Muitos pensam: mas como assim, muitos de nós já ficou doente, já ficou internado, já ficou longe dos seus, já esteve com dor, já passou por tratamentos difíceis, já viveu fases duras na vida, já sofreu baques e levou tombos, mas por que agora seria diferente?
Agora é diferente, pois vivemos esse nosso ‘drama pessoal’, esta nossa ‘dor pessoal’, em escala mundial, isto é, todos nós estamos ao mesmo tempo enfrentando uma situação de insegurança, de medo, de risco, de morte, de dor, de privação. A pandemia é um termo utilizado para descrever uma situação em que determinada doença apresenta uma distribuição em grande escala, espalhando-se por diversos países. Vivemos hoje a Pandemia do Covid-19, que nos assola a todos de maneira igual e de maneira absolutamente diferentes.
De maneira igual pois o vírus está aí, espalhado pela lindíssima e histórica Itália, pela moderna Nova Iorque e seu centro comercial e financeiro, tomou conta da China e de seus habitantes voltados ao trabalho, veio caminhando pelo mundo e deixando um rastro de morte, dor, colapso do sistema de saúde e chegou até nós, não sem antes passar e arrasar a Espanha. O vírus não escolhe quem atinge, não escolhe a quem vai contaminar, pouco se importa de pessoa de pouca ou muita idade, saudável ou com alguma pré-existência, com ou sem plano de saúde, rico ou pobre.
Mas o vírus nos atinge de maneira tão diferentes: muitos de nós não têm condições de ficar em casa, pois lhe falta o básico (arroz e feijão mesmo), para outros é possível um mês, no máximo dois em casa sem que lhe falte o básico (embora o orçamento fique ‘apertado’) e outros poucos têm condição de uma quarentena real e completa, preocupados só com a prevenção do vírus e com a manutenção da saúde física e emocional, conseguem conviver, se exercitar, estar cada um em seus quartos, trabalhar em ‘home office’. Essa grande diferença coloca a quarentena ‘em risco’, pois para muitos de nós a quarentena é a opção pela fome, pela miséria, por não pagar contas mínimas. O auxílio emergencial que deveria ser algo rápido, ágil e eficiente tem gerado ansiedade, angústia e medo. Não ‘saiu’ para grande parte da população, está em análise ou ainda gerando dados de pagamento ou ainda os dados são inconclusivos. Como aguardar calmamente, em casa, por R$ 600,00 com tanta coisa a ser paga? Os que podem ficar um ou dois meses em casa antes de lhes faltar tudo começam a sentir ansiedade e temor frente às privações, perda de emprego, atraso de pagamentos e começam a pensar em se arriscar.
Franz Kafka dizia que “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.”. E com essa frase os convido a reflexão sobre este momento. Precisamos estar em quarentena, pois esta situação nos foi determinada, pois esta decisão é uma auto-proteção e proteção dos que amamos e esta adesão significa barrar a doença de se espalhar de forma rápida, cruel, dolorosa, destruindo vidas, trazendo sofrimento, colapsando o sistema de saúde, aí entra a questão da solidariedade, de nos colocarmos no lugar deste outro, exercitando ao máximo nossa empatia, como dizia Carl Rogers “ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.”, ou seja, significa olharmos para aqueles que estão em situação de maior desvantagem que a nossa e ajudarmos, ajudarmos com o que lhes falta, com o que lhes causa dor, medo, pavor, tristeza e angústia.
A solidariedade nos momentos de maior dor e maior sofrimento de nossas vidas, seja ela qual for (doando arroz, feijão, escutando o outro e seus medos, seja unindo amigos e pagando uma conta de energia ou de água de uma família que precisa. Neste momento vemos pessoas engajadas em montar cestas básicas aos que tão pouco possuem, costurar máscaras aos que jamais poderiam tê-las, gente engajada em distribuir kits de higiene e alimentação a moradores de rua. Tudo isso não ataca ao vírus e não impede que ele acabe por contaminar muita gente, mas garante que possamos reduzir a angústia e sofrimento alheio.
Que possamos todos passar por este momento tão doloroso e de isolamento social de maneira completa, de maneira tranquila, que encontremos pessoas solidárias e que possamos ser solidários. Que possamos descobrir o melhor de nós.
Encerro com um convite a reflexão, do maravilhoso Rubem Alves: “A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente”.