Saudade é um sentimento que nunca passa, muitas vezes ele fica ali, quieto, sem dar sinal e acaba por nos dar a ilusão de ter diminuído um pouco… ficamos mais firmes e mais corajosos, ufa, pensamos, superado!
Mas aí aparece a Pitaya no pé, são várias delas, grandes, lindas, ficando com aquela cor rosa tão alegre e escutamos: “Olha o pé de pitaya está carregadinho”. Há pitaya pra que você foi se meter a aparecer ali, do nada, sem aviso prévio, sem perguntar se podia, se havia preparo pra te ver sem sermos atropelados por uma avalanche de memórias, de sentimentos, de lembranças. Pronto, não dá nem para olhar em direção ao pé. E olha que elas são apenas lindas e deliciosas frutas, não fossem a memória singela de momentos de amor que carregam consigo.
O dia passou, veio o dia seguinte e a memória da fruta foi ficando ali, quietinha, meio que querendo cochilar, até que em 2 ou 3 minutos dando uma fuçada no Instagram, deparo-me com uma moça que escreveu “perder um pai nunca passa” e em seu textinho tão lindo, verdadeiro e poético, ela diz: “Perder um pai nunca passa, percebi isso da forma mais escancarada ontem, pouco mais de um ano depois dele morrer. Estava na fila do supermercado e vi um homem na casa dos 70. Nem parecia com ele. E ele não achou o produto que foi procurar. Meu choro veio sem que eu pudesse tentar controlar. Perder um pai nunca passa. Eu sei que vai seguir sendo assim. Sou feliz, a vida tem outras cores. Mas nenhuma é a cor dele. O som dele. O cheiro dele. O riso que ele provocava em mim. Perder um pai nunca passa. Sempre vou me sentir como se me faltasse um teto, um guarda-chuva, um chapéu. Sempre vai faltar uma cobertura, por mais que eu construa um telhado vigoroso. Falta ele. Não é sobre ser infeliz pra sempre, não é sobre nunca se recuperar. É sobre uma tatuagem nova, que nunca vai ser removida, que diz: o meu pai não está aqui. Podem dizer que ele está, de alguma maneira. Mas não é a nossa maneira. Não é aquela. Aquela passou. E a falta dela, essa nunca passa. Podem vir os 2 anos, os 10 os 20. Vai sempre haver a tatuagem, o teto falso, o buraco. Perder um pai nunca passa.” Ruth Manus
Certíssima a Ruth! Nunca passa. Não é mesmo sobre não ser feliz, mas sobre ser surpreendida com a falta que ele faz nas pequenas coisas cotidianas. Quantas vezes pego o telefone para ligar e contar uma coisa boa, daí me lembro que não vou escutar a voz, não vou ouvir um conselho, não vou nem levar uma bronca se for o caso. O nó na garganta vem, vem sem pedir licença, vem atropelando, vem e se instala.
Perder um pai é perder a opinião que te dá força pra ir em frente ou te faz pensar duas vezes antes de fazer algo. Não que hoje em dia não saibamos traçar nossos caminhos sem essa opinião, mas como ela faz falta, como fica um buraco no lugar dela.
Algumas memórias afetivas, algumas frases, algumas ‘piadas internas’ sempre estarão ali, ainda bem, para nos fazer sorrir, chorar de emoção, chorar de tristeza.
No supermercado nunca me ocorreu, mas o dia que percebi que o número dele não estava tão automático assim, chorei vexativamente. Nem há sentido, né?
E o dia que aquela música ‘tão dele’ toca, assim, sem aviso?! Lá estão elas, as lágrimas fazendo questão de lembrar que a saudade está ali e nunca passa.
Quantas vezes nos pegamos pensando: “Se ele estivesse aqui, isso seria resolvido bem mais facilmente, ora bolas.” E vem aquele aperto no peito, aquela falta do telhado, do teto, apesar de termos telhado e teto e termos repertório para resolver as coisas.
Perder um pai nunca passa. Sempre fica o buraco do primeiro cafezinho da manhã, no trabalho, com ele, sempre fica o som da risada, o cabelinho cuidadosamente arrumado, sempre fica a saudade dele.
“I’ve lived a life that’s full, I travelled each and every Highway, and more, much more than this, I did it my way (…)” My Way – Frank Sinatra