Entra ano e sai ano e vamos vivendo nossas vidas, trabalhando, enfrentando problemas e adversidades, cuidando da saúde, mantendo as amizades, fazendo novos amigos, lidando com gente complicada, solucionando problemas, enfim os dias passam, os anos passam e vamos nos transformando.
Mas em que estamos nos transformando? Em pessoas melhores ou piores? Será que temos evoluído?
Deparamo-nos com um aumento da agressividade e da intolerância entre as pessoas. As pessoas não se escutam mais, não buscam compreender o que se passa com o outro e as dificuldades que este pode estar enfrentando. Muitas vezes parte-se para a discussão, para a agressividade, para a briga, sendo que o diálogo e a tolerância poderiam ter evitado muitos problemas. A intolerância vai desde desentendimentos e falta de conversa entre vizinhos, no condomínio, no bairro, até em grandes brigas políticas, grandes brigas por ideias, dificuldades para que se cheguem a um consenso.
Quantas e quantas vezes percebemos que depois que ‘perdemos nossa utilidade’ já nos tornamos descartáveis? Este é outro grande problema que enfrentamos hoje em dia. Quantas vezes ajudamos, auxiliamos, nos colocamos disponíveis para os demais e assim que a ajuda ocorre e os problemas são resolvidos, nos percebemos como descartáveis, somos ‘deixados’ de lado, perdemos nossa ‘utilidade’, mas espera, somos seres humanos, pessoas…
Além disso, quantas e quantas vezes percebemos a fofoca e fofoqueiros falando e expondo aos demais? Já diz o ditado: “Quando você me fala sobre Paulo, sei mais sobre você do que sobre Paulo.”. Como é triste ver quão baixo e rasteiro desce um ser humano que fala sobre o outro, que expõe este outro, que não lhe concede o direito à privacidade.
Posto isto, dentre outras coisas mais, percebemos que não estamos melhorando em nada enquanto pessoa, ser humano, mas sim ‘involuindo’.
Precisamos refletir sobre o mundo que estamos ajudando a construir: um mundo cercado de violência e de agressividade, um mundo onde pessoas perdem sua serventia e utilidade quando fazem o que o outro quer, quando nos alimentamos e alimentamos curiosos com fofoca ou um mundo em que impere o diálogo, a mediação, o entendimento como parte da solução de problemas, um mundo onde pessoas não tenham serventia e utilidade, mas ajudem umas as outras sempre e a todo o tempo, desde que possam e um mundo onde fofoqueiros sejam deixados de escanteio e não consigam falar do outro e de sua vida e ofereçam entretenimento a demais fofoqueiros.
Conversemos mais, procuremos escutar as pessoas que nos cercam, compreender o que se passa com elas, busquemos o entendimento e a paz.
Não façamos das pessoas e de sua dedicação para conosco de mera utilidade para que consigamos o que precisávamos. Não descartemos quem nos ajudou, após terem nos ajudado, terem feito por nós o que precisávamos.
Jamais façamos fofocas ou participemos delas, ainda que como ouvintes, afinal, só existe o fofoqueiro (aquele que fala dos demais) porque existe o fofoqueiro que escuta e dá palco ao que é dito dos demais.
Encerro com um convite a reflexão: “Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço.” Immanuel Kant