“Conta a lenda que dormia uma Princesa encantada, a quem só despertaria um Infante, que viria do além do muro da estrada (…)” (Eros e Psique, Fernando Pessoa)
A poesia acima é linda, aliás Fernando Pessoa tem poesias lindas, Clarice Lispector (que se estivesse viva faria 100 anos em Dezembro) tem obras belíssimas, como “A hora da estrela”, Rubem Fonseca, escritor falecido este ano tem obras fortes e duras, como “A grande arte”, existem obras maravilhosas como “A menina e o Pássaro
Encantado” do lindo Rubem Alves, temos nossos livros e nossas poesias queridas e por que estou as citando?
Assistindo à uma entrevista de Leandro Karnal sobre “O Mundo pós pandemia”, decidi compartilhar com cada um de vocês um pouco da beleza e da sapiência da entrevista. É uma lição de otimismo, de boas ideias, de acolhida.
Nela, Karnal aborda de maneira bastante real e sem romantismo a questão da necessidade da solidariedade nos dias de hoje. Vemos muitos questionando os porquês da solidariedade e das doações deste ou daquele, se é para fazer o bem, se é para diminuir sua culpa, se é para ganhar ‘likes’, mas sabiamente pontua que quem tem fome e quem tem necessidade só precisa desta ação, como dizia Betinho: Quando eu ofereço alimento a quem tem fome, só vejo pessoas atrás de suas confortáveis cadeiras, em suas casas confortáveis chamando tal ato de assistencialismo e filosofando sobre como seria melhor se eles conquistassem o alimento, pois quem tem fome, apenas aceita, come e mata sua fome! E nesta época difícil e dura que enfrentamos, a solidariedade, seja esta motivada por qualquer que seja o motivo, se faz absolutamente necessário, se faz importante e se faz vital. Muitos serão os que perderão empregos, renda, muitos terão fome, muitos precisarão de ajuda e se pudermos oferecer, que o façamos. Fica uma frase de Madre Teresa de Calcutá para que possamos refletir: “O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor.”
Mas esse período de quarentena e esta Pandemia nos pedem mais, nos colocam em contato direto com nossos familiares, em casa. Reclamávamos tanto da falta de tempo de curtirmos a família e como temos curtido nossos familiares? Cada um em sua rede social, sem diálogo, sem companhia um ao outro e protagonizando brigas vez por outra ou aproveitando para nos re-conhecermos e nos re-conectarmos? Por que não lermos juntos poesia como Eros e Psique, de Fernando Pessoa? Ou juntos escutarmos boas músicas, que a família goste e que possa passar paz, tranquilidade e beleza? Beethoven, que faria 240 anos, se vivo, tem obras lindas e excelentes para transformamos o silêncio em um momento acolhedor, além dele, muitos outros artistas podem ser apreciados pela família. Aproveitemos para fazermos boas refeições juntos e em família, passando momentos únicos e de amor e aconchego. Que tal assistirmos aquele filme antigo que toda a família gosta? Ou que tal um jogo (xadrez, dama, baralho) em família?
A rotina e o autocuidado são extremamente importantes, para que consigamos ainda nos conectar com o mundo exterior e entendermos que essa fase passará e que nós voltaremos ao ‘normal’, um normal diferente, fortalecidos, um normal em que teremos nossos valores absolutos revistos, um normal pós termos enfrentado o medo, a privação, termos visto de perto e ‘de longe’ a morte e assistirmos e sentirmos a dor da perda, da morte!
Encerro com um convite a reflexão do próprio Leandro Karnal: “Tão importante quanto atravessar o deserto é saber o que fará com ele.” (O mundo como eu vejo)