Aconteceu nesta quarta-feira (6/3) o último júri do homem que matou quatro pessoas, incluindo uma ex-companheira, em Guarulhos (SP). Ele foi sentenciado a 28 anos de prisão pelo feminicídio e a mais 51 anos pelos outros três homicídios. A Justiça ainda o condenou a outros 6 anos de prisão por roubo. Um amigo de infância do réu, que o ajudou em um dos crimes, recebeu pena de 17 anos e 6 meses. Ambos estão presos.
Segundo o promotor de Justiça Rodrigo Merli, em abril de 2019 o réu estava inconformado com o fim do relacionamento amoroso e seguiu a mãe de sua filha até uma festa, encurralando-a no banheiro e alvejando-a com diversos disparos de arma de fogo. O crime causou indignação na comunidade, fazendo com que o autor passasse a ser procurado pelos próprios moradores. Alguns parentes do homem foram questionados acerca de seu paradeiro.
Sabendo que vizinhos estavam em seu encalço e considerando que seus parentes tinham sido importunados, o réu decidiu matar três daquelas pessoas, cometendo os crimes em julho, setembro e outubro também de 2019. Dias depois do último homicídio, o condenado foi preso em flagrante por roubo e cárcere privado. Na oportunidade ele confessou apenas o feminicídio contra a ex-companheira, negando os demais assassinatos. No entanto, os jurados o consideraram culpado por todas as mortes.
Tendo atuado em todos os processos do réu, Merli salientou a importância e a validade dos depoimentos prestados na fase inquisitorial, mesmo que alterados posteriormente em juízo. Abordando aspectos da criminologia, o promotor sustentou que, dificilmente, as testemunhas do inquérito confirmam em juízo ou no plenário, diante dos réus ou de seus defensores, tudo aquilo que afiançaram na fase policial, sob o risco de se tornarem as próximas vítimas.
“A realidade brasileira, em especial das comunidades, nem sempre permite isso”, afirmou Merli. Em seu discurso, o membro do MPSP considerou ainda que a lógica humana é a “rainha das provas”, estando ela nos depoimentos colhidos em bruto na primeira fase de investigação, no calor dos acontecimentos e sem qualquer espécie de interferência. Ao final, citando o criminologista francês Edmond Locard, o promotor afirmou que “o tempo que passa é a verdade que foge”.