Dois em cada três jovens acreditam que a internet aumenta a prática de bullying e amplia o isolamento. Para 57%, ela agrava quadros de ansiedade. Os dados são da terceira edição da pesquisa Juventudes e Conexões, realizada pela Rede Conhecimento Social em parceria com o Ibope Inteligência, a pedido da Fundação Telefônica Vivo.
O levantamento ouviu 1.440 pessoas entre 15 e 29 anos de todas as classes sociais e regiões do País, entre julho de 2018 e junho de 2019. Para construção do estudo, foram realizados workshops, oficinas e grupos de discussão com a participação de pesquisadores e jovens consultores. O perfil dos entrevistados era de pessoas que tiveram acesso à internet semanalmente nos últimos três meses.
“O comportamento é o eixo mais complexo da pesquisa, porque abrange identidades e fala do comportamento nas redes sociais e como os jovens se sentem dentro do mundo virtual”, explica Marisa de Castro Villi, diretora executiva da Rede Conhecimento Social. “Muito embora tenha um potencial de contribuição positiva, tem dados negativos.”
Segundo a pesquisa, 66% dos entrevistados acreditam que a internet aumenta o bullying, 65% dizem que tem impacto na exposição da intimidade e 60% afirmam que agrava a sensação de isolamento, embora comunicação seja a principal atividade feita por eles no ambiente online, como utilizar aplicativos para conversa instantânea e redes sociais. “As atividades dos jovens se tornam muito intensas nessa área, o que faz com que eles se isolem e dediquem mais tempo virtualmente do que presencialmente Isso traz prejuízos nas relações sociais, pode causar irritabilidade, insônia, alterações na alimentação e depressão. Outro problema é o cyberbullying. Por trás do computador, as pessoas agridem mais, porque acham que não vão ser detectadas”, diz a psicóloga clínica Veruska Ghendov.
Ela afirma que os pais devem incentivar os filhos a reduzir o tempo online. “Eles precisam saber o motivo do uso e cada idade tem um limite de tempo. O ideal é que o tempo não seja ultrapassado. Nada substitui as atividades e a presença humana. Se o jovem souber equilibrar, consegue fazer todas as coisas.”
O conferente de mercadoria Gleison Neves, de 29 anos, diz que tem uma relação tranquila com a internet, mas já sofreu ataques virtuais ao publicar fotos em redes sociais. “Sou homossexual e tem pessoas que discriminam, dizem que a gente vai para o inferno. Mas não me importo. Dobro o número de fotos e, se a pessoa não gosta, que saia da minha rede social.”
Ele diz que está sempre checando a internet e curtidas em posts criam expectativa. “É normal postar uma foto e ficar ansioso por curtidas. Eu até fico. Gosto de postar fotos minhas na academia, em passeios, memes, vídeos engraçados. Hoje, não existe vida sem internet.”
Apesar das avaliações críticas sobre o mundo online, o estudo mostrou que os jovens estão tendo um olhar mais positivo sobre a própria imagem, com base nas interações virtuais. “(A pesquisa mostrou que) 30% sentem que a relação consigo melhorou em relação a cabelo, corpo e sexualidade com os conteúdos da internet. Com a difusão de outros padrões de beleza, os jovens estão conseguindo se conectar com outras pessoas e movimentos com os quais se identificam”, diz Marisa.
Segurança
O levantamento mostrou também que 55% dos entrevistados já passaram mais tempo na internet do que pretendiam. “Eles estão conectados o tempo todo. Eles cresceram no ambiente da internet e sabem o quanto estão se expondo e gerando sentimentos tóxicos”, avalia Americo Mattar, diretor-presidente da Fundação Vivo Telefônica.
Para a tranquilidade dos pais, embora se sintam mais expostos a situações negativas ao utilizar a internet, os jovens demonstram tomar cuidados no ambiente virtual. O levantamento mostrou que 78% dos entrevistados não se sentem confortáveis em trocar informações pessoais com desconhecidos. No caso da segurança na internet, as mulheres e os mais jovens, da faixa de 15 a 19 anos, demonstraram que são os mais desconfiados quando o assunto é compartilhar informações online.