O número de acidentes com morcegos na capital paulista cresceu 101,8% neste ano, segundo dados da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), órgão da Secretaria Municipal da Saúde. Os registros passaram de 107, em 2018, para 216, em 2019 (até o dia 4). Entre os motivos para a alta está a entrada de grupos, principalmente religiosos, em uma Área de Proteção Ambiental (APA) na zona leste da capital.
“Os morcegos são muito comuns nas áreas urbanas e estão em todos os distritos e bairros, pois se adaptaram bem”, afirma Débora Cardoso de Oliveira, bióloga do setor de Quirópteros do Divisão de Vigilância de Zoonoses da secretaria.
De acordo com ela, os mais famosos e temidos – que se alimentam de sangue, chamados hematófagos – estão restritos às áreas de mata. Normalmente, eles mordem outros animais, mas quando encontram pessoas em seu habitat podem também mordê-las em busca de alimento. “Não existe um ataque de morcegos. Eles não atacam, não tem um comportamento agressivo”, conta.
São registrados como “acidente” quando as pessoas são mordidas ou arranhadas por qualquer espécie de morcegos, incluindo aqueles que não se alimentam de sangue, e mesmo no caso em que elas se ferem tentando capturá-los.
Parte do aumento foi causada pela entrada de grupos religiosos em uma APA. De acordo com a pasta, não é possível indicar quais regiões da cidade registram mais acidentes, pois a notificação é feita por local de residência e não de ocorrência. No entanto, 31,9% dos casos deste ano foram atendidos em um hospital da zona leste, o Tide Setubal, que é a unidade de referência para este tipo de atendimento na região, onde houve 69 casos. Segundo a secretaria, a unidade também atende pessoas de outras partes da cidade e de municípios vizinhos.
A secretaria informou que a Unidade de Vigilância em Saúde (UVIS) da Cidade Tiradentes, na zona leste, fez um trabalho de monitoramento dos morcegos na APA Iguatemi e orientou a população com relação à proteção ao ingressar em áreas de mata.
Além da entrada de pessoas em áreas de mata, a secretaria diz que campanhas de conscientização para que a população procure atendimento médico em caso de acidente foram realizadas e que isso pode ter contribuído para o aumento de registros.
Bióloga que trabalha com morcegos há uma década, Helen Regina da Silva Rossi explica que, ao longo dos anos, os morcegos se adaptaram à vida nas cidades, principalmente as espécies que se alimentam de insetos.
“As cidades foram crescendo e tomando conta das matas. A iluminação das cidades atraiu os insetos e os morcegos vão em busca de alimento. E os morcegos que se alimentam de insetos se adaptaram às casas. Por isso, eles podem ser encontrados no forro das residências.”
Recomendações
Ao encontrar um morcego, a recomendação é não pegá-lo. Também é necessário ter cuidado ao limpar o local onde os morcegos se instalaram.
“Ele morde e pode transmitir a raiva. Outra doença ligada ao morcego é a histoplasmose, que é causada pelo esporo de um fungo que surge nas fezes do morcego. Ao ser aspirado, ele causa essa doença respiratória que tem tratamento e cura, mas é bem desagradável.”
Raiva
A capital não tem registro de raiva humana autóctone desde 1981. No Estado de São Paulo, nenhum caso de raiva foi registrado neste ano. No ano passado, houve o registro em um paciente de Ubatuba, segundo a Secretária de Estado da Saúde.
“Caso tenha tido contato direto com um morcego ou se for frequentador de áreas de mata e notar qualquer ferimento com sangue, é imprescindível procurar orientação médica pelo risco de pegar raiva. Essa doença, se não for tratada imediatamente, é fatal. Pessoas, cães e gatos com histórico de contato com morcegos também devem procurar ou ser encaminhados para o serviço de saúde, para a avaliação médica”, informa a secretária municipal.
A pasta estadual relembra que não é permitido ferir nem matar esses animais. “Cabe lembrar que morcegos são animais silvestres protegidos por legislação, e contribuem ambientalmente no processo de polinização, dispersão de sementes e redução de pragas de insetos. Por isso, não devem ser capturados e mortos pela população.”
O que fazer ao encontrar um morcego?
Não toque no animal. Tente imobilizá-lo com um balde, um pano ou uma caixa
Chame a Divisão de Vigilância de Zoonoses pelo telefone 156
Solicite a abertura de um SAC de remoção de morcego
O serviço funciona 24 horas
E se eu for mordido ou arranhado por um morcego?
A orientação é procurar uma unidade de saúde ou o Instituto Pasteur
E se o acidente for com um animal doméstico?
Ele deve ser levado ao veterinário. É importante que todos os animais sejam vacinados contra a raiva.