Madalena Gordiano, de 47 anos, passou 38 anos de sua vida trabalhando em condições análogas a escravidão para uma família em Minas Gerais. Em um processo movido pela ex-funcionária contra os ex-patrões, ela cobrava R$ 2.244.078,81 em direitos trabalhistas. O Tribunal Regional do Trabalho da terceira região em Patos de Minas propôs, na última terça-feira (13), uma quantia de R$ 690.100,00, que foi aceita, segundo o UOL.
A indenização será paga através da entrega do apartamento em que ela trabalhou, avaliado em R$ 600 mil. Além do imóvel, Madalena irá receber o carro dos antigos patrões, um Hyundai avaliado em R$ 70 mil e mais R$ 20 mil.
De acordo com a defesa da mulher, este foi o maior acordo já feito em caso de situação análoga a escravidão.
SOBRE A HISTÓRIA DE MADALENA
Em entrevista dada ao Fantástico, Madalena revelou que tinha oito anos quando bateu na porta da casa da professora Maria das Graças Milagres Rigueira para pedir um pão, pois estava com fome. Segundo Gordiano, a educadora respondeu ela dizendo: “Não vou te dar não. Você vai morar comigo”.
Ela foi tirada da escola ainda pequena e não teve acesso a brincadeiras infantis como qualquer outra criança de sua idade. Após alguns anos, Madalena foi rejeitada pelo marido de Maria da Graças e foi doada para Dalton César Milagres Rigueira, que também era professor.
Durante quase 40 anos, ela prestou serviços para a família sem remuneração e outros direitos trabalhistas, como férias, 13º salário, recolhimento do FGTS e hora extra. A rotina da vítima era extremamente abusiva, sem folgas e com início de expediente às 4h da manhã.
Além da indenização trabalhista, a vítima irá receber uma pensão integral por ter sido casada com Marino Lopes da Costa, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial e tio da esposa de Dalton. A família passou a administrar o dinheiro de Madalena até a morte de Marino, em 2003.
Após finalmente conseguir sair da casa, Madalena descobriu que cinco empréstimos consignados foram feitos em seu nome, o que resultava em um desconto de R$ 5 mil por mês.
Em junho, os advogados de Madalena conseguiram entrar em acordo com os bancos e os descontos vão cessar. Com isso, ela poderá receber de forma integral a pensão de R$ 8,4 mil. Antes disso, o dinheiro de Madalena ajudou a custear a faculdade de Medicina de outra das filhas do casal.