A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual de São Paulo deflagraram nesta quinta-feira, 14, uma operação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) e seus aliados em 14 Estados. Ao todo, 63 mandados de prisão, de um total de 75 expedidos pela Justiça, foram cumpridos, além de 55 de busca e apreensão. A Operação Echelon teve por base investigações iniciadas no começo do ano passado, que interceptaram ordens para execução de rivais da facção nos Estados e para a morte de policiais e agentes penitenciários.
A célula encarregada da expandir os negócios da quadrilha fora de São Paulo, incluindo a operação em outros países, era controlada por sete pessoas, todas presas na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista. Elas haviam assumido a função após outros 14 detentos, incluindo o líder máximo da quadrilha, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, terem sido transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), um isolamento dentro do presídio de Presidente Bernardes, também no interior, no ano passado.
Esses sete líderes foram transferidos na quinta para o RDD. São eles: Cláudio Barbosa da Silva, o Barbará; Almir Rodrigues Ferreira, o Nenê da Simioni; Rogério Araújo Paschini; Reginaldo do Nascimento; José de Arimateia Pereira; Cristiano Dias Gangi; e Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, acusado pelo sequestro da mãe do jogador Robinho.
Entretanto, um dos homens apontados como o principal encarregado do “resumo dos Estados”, como essa célula era batizada, conseguiu evitar a prisão. Policiais tentaram capturar Rafael Silvestre da Silva, o Gilmar, em um conjunto habitacional em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, mas ele escapou. Era o encarregado fora dos presídios de transmitir os “salves”, as ordens da cúpula, para os membros da facção ou seus aliados fora de São Paulo.
Do total de prisões solicitadas, 51 pessoas já estavam presas. Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Presidente Prudente, as prisões foram ocorrendo ao longo das investigações, conforme eram interceptadas ações que precisavam de respostas imediatas. “Eles foram detidos por outros crimes, alguns por mandados de prisão temporária, mas agora cumprirão prisão preventiva pelo crimes de organização criminosa.”. Quinze desses presos também deverão ser transferidos para o RDD.
O delegado Pablo França, do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-8), também de Prudente, detalhou que, entre o material interceptado, havia ordens para matar agentes públicos em outras regiões do País. As inteligências dos Estados em que essas mortes ocorreram, ou ainda ocorreriam, foram avisadas. Assim, agentes chegaram a ser protegidos e, em alguns casos, mortes foram esclarecidas. “Agora, vamos fazer as denúncias criminais”, disse.
A apuração já mostrou como a cúpula do grupo mantém contato com bandidos em outros Estados, atuando nos tráficos de armas e drogas. Nos últimos quatro anos, o total de integrantes do PCC espalhados fora de São Paulo cresceu 6 vezes, de 3 mil para pouco mais de 20 mil membros. No Estado de São Paulo, a facção tem 10,9 mil integrantes.
Golpe mortal
O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves, chegou a dizer que a ação era um “golpe mortal” na facção, mas após ser questionado se corrigiu e chamou a operação de um “sério golpe” na facção e que o combate ao PCC “é um trabalho constante”.
Já o titular da Secretaria de Administração Penitenciária, Lourival Gomes, afirmou saber que “vão surgir” outras pessoas para assumirem as funções dos presos. “Estamos aqui para combater”, concluiu.
Coordenador escapa
A busca por Rafael Silvestre da Silva, o Gilmar, apontado como líder do “resumo dos Estados”, o braço do Primeiro Comando da Capital (PCC) encarregado de cuidar dos negócios da facção fora de São Paulo, mobilizou a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual, que pediram e obtiveram na quinta mesmo quatro mandados de busca e apreensão em apartamentos de um conjunto habitacional de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Os agentes tinham o endereço em que o suspeito poderia ser encontrado, e estavam rastreando seu telefone celular. Ao executar o mandado, perceberam que Gilmar não estava no endereço apontado durante as investigações. Mas o celular estava em uma área dentro do condomínio. “Era um conjunto enorme, seis ruas”, disse o delegado Pablo França, do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-8).
Os policiais passaram a procurá-lo nos prédios do conjunto, mas a cada pista nova, que poderia indicar um possível apartamento em que o acusado estaria escondido, era preciso um novo mandado de busca. Por fim, o telefone parou de emitir sinais e Gilmar fugiu.
Outro líder do “resumo dos Estados” é Adriano Hilário da Silva, o Caíque, preso em maio no Aeroporto de Cumbica, na Grande São Paulo, quando voltava de férias na Bahia.