A polícia paraguaia investiga se a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) executou o ataque à pista de motocross que causou a morte do médico Sandro Abel Arredondo Lugo, de 45 anos, no último dia 27, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil. O atentado, que matou também um segurança e deixou duas pessoas feridas à bala, é mais um episódio na guerra entre facções brasileiras para o controle do tráfico na fronteira. O alvo dos criminosos, o piloto Fernando Olmedo Calonga, foi atingido por dois tiros, mas sobreviveu. Os 12 pistoleiros mascarados, que chegaram em quatro caminhonetes, teriam fugido para o Brasil.
Inicialmente, autoridades paraguaias suspeitaram de que a ordem para matar o piloto tivesse partido de seguidores do brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, ligado ao Comando Vermelho (CV), que foi preso e extraditado para o Brasil. Nesta segunda-feira, 1, resultados da perícia no local revelaram que os pistoleiros utilizaram armas com grande poder de fogo, normalmente usadas em ações criminosas da facção paulista. De acordo com o Gustavo Molina, chefe da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), tudo indica o envolvimento de facções brasileiras, mas ainda é cedo para apontar quem foi responsável pelo ataque. “Está muito confuso, mas não vai tardar para que os suspeitos sejam presos”, disse.
Munições
Munições de fuzil e arma carregadas no Paraguai foram apreendidas pela PRF, já no Rio; arsenal seria entregue no Complexo da Maré.
Calonga trabalhou como piloto para George Rafaat, executado em 2016, numa ação planejada por Pavão, mas que envolveu também o PCC. Rafaat controlava o tráfico na fronteira e era tido com obstáculo à expansão dos negócios das facções. Depois da morte do chefe, as duas facções se tornaram rivais e o piloto teria prestado serviços para Pavão. Há quatro anos, ele foi alvo de um atentado, mas também sobreviveu após levar dois tiros na cabeça.
Conforme a investigação, o médico Sandro Arredondo, diretor de medicina da Universidade Central do Paraguai, foi vítima da guerra pelo controle do tráfico na fronteira. Ele foi atingido porque estava próximo do piloto, alvo dos atiradores. Os dois assistiam à corrida dos filhos, que disputavam uma prova de motocross. O secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, disse que a pista fica quase na linha de fronteira e não descarta uma ação do PCC. “Nosso pessoal de inteligência está em contato com a polícia paraguaia, trabalhando em conjunto”, afirmou. Até a tarde desta segunda-feira, nenhum suspeito tinha sido preso.
Sem controle
Só este ano, até o fim de março, 28 pessoas foram assassinadas em Pedro Juan Caballero, segundo o Ministério do Interior paraguaio. Na cidade-gêmea brasileira, Ponta Porã, morreram 8 pessoas, o que é equivalente a um homicídio a cada 2,8 dias naquela porção da fronteira. Segundo Videira, quando Fahd Jamil e George Rafaat controlavam o tráfico na região, os assassinatos e execuções ficavam no âmbito da criminalidade. Com a morte ou prisão desses líderes, o comando do crime na fronteira ficou acéfalo, dando início a uma disputa sangrenta pelo poder, incluindo as facções brasileiras.
Depois do ataque à pista de motocross, um novo atentado aconteceu na noite de sábado, 30, no lado brasileiro, em Ponta Porã. Homens armados com fuzis e pistolas entraram atirando numa arena de futebol social. Havia muita gente no local, mas só uma pessoa ficou ferida. A polícia encontrou cápsulas de pistola 9 mm e fuzil HK-47.
Na quinta-feira, 28, o alvo foi o funcionário de um cartório, que sobreviveu após ser atingido por vários tiros, também em Ponta Porã. Ele foi preso e está sob escolta em hospital após terem sido encontradas armas e drogas em sua casa. No dia 24 de março, um homem ligado a uma facção que age no nordeste brasileiro foi executado com mais de 20 tiros, no lado brasileiro da fronteira. A vítima, Alan Fernandes de Souza, usava nome e documentos falsos.
Munição
Em meio à guerra, as rotas de tráfico e contrabando continuam operando na fronteira. Neste domingo, 31, um carregamento com 3 060 munições para fuzis de calibres 7,62 e 5,56 mm e uma pistola calibre 9 mm de fabricação israelense foi apreendido pela Polícia Rodoviária Federal no fundo falso de uma caminhonete, na BR-040, em Três Rios (RJ). O motorista contou que a carga era proveniente do Paraguai. As munições e a arma foram carregadas em Guaíra (PR), na fronteira com o país vizinho, e seria entregue no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. O condutor, de 58 anos, foi preso.