O candidato do Novo à Presidência da República, João Amoêdo, refutou nesta terça-feira, 28, os ataques feitos por adversários nos últimos dias de que sua candidatura representa a elite econômica brasileira e disse que começa a perceber um aumento do interesse em seu nome nos setores mais populares.
“Meu patrimônio não me coloca junto à elite, me torna independente”, disse Amoedo.
Candidato mais rico entre os postulantes ao Planalto este ano, Amoêdo disse que vai bancar entre 20% e 30% de sua campanha.
Amoêdo é o segundo convidado da série de encontros Estadão-Faap Sabatinas com os Presidenciáveis. No evento, ele comemorou o resultado das últimas pesquisas mesmo sem ter participado dos debates.
Também se mostrou contente com a recente onda de ataques contra o seu nome nas redes sociais. “Se está incomodando, mostra que a gente está crescendo”, disse.
Questionado sobre sua estratégia para desbancar Jair Bolsonaro (PSL) no campo da centro-direita, Amoêdo disse entender que parte dos eleitores do capitão reformado do Exército tem um sentimento anti-PT, mas pode migrar para sua candidatura porque ela tem mais coerência. “O Bolsonaro é visto como anti-PT, mas não sabemos qual é a linha dele, porque ele nunca fez, na prática, o que defende hoje.”
Venezuela
Sobre suas propostas para a política externa brasileira e sua posição sobre a Venezuela, Amoêdo disse que o Brasil deveria seguir o exemplo do Chile na América do Sul e orientar sua política comercial em direção às economias mais ricas e a um maior número de tratados comerciais.
Ele disse ainda que o Brasil não deveria, neste momento, aplicar nenhum tipo de sanção ao país governado por Nicolás Maduro, porque isto prejudicaria ainda mais a população.
“O Brasil tem que receber os refugiados, tem que ter um caráter humanitário. Isso pode acontecer com a gente mais pra frente, não sabemos que governo virá aí”, defendeu o candidato. “Hoje, o que dá para fazer é receber imigrantes aqui e se alinhar com as grandes democracias do mundo para pedir mudanças no governo.”
Líder de um pequeno partido que não fez alianças para a corrida nacional, Amoêdo recebeu várias perguntas da plateia sobre como pretende fazer para governar o País a partir de uma base de sustentação tão pequena.
Ele se disse otimista e crê em uma maior renovação do Congresso no ano que vem. “A negociação com o Congresso não será fácil, mas é possível se criarmos as condições certas: propor ideias claras, determinação e bom senso sem desviar de valores”, avaliou.
Amoêdo defende privatização de estatais
O candidato defendeu a privatização de estatais que considerou apenas “estratégicas para políticos”, propôs mudança na condução econômica e admitiu ter votado no ex-presidente Fernando Collor no segundo turno das eleições de 1989 por ser o opositor do PT naquele momento.
Na entrevista, João Amoêdo defendeu um modelo liberal de gerir o Estado. Para o candidato do Novo, é necessário simplificar tributos, reorganizar a máquina pública com corte nos cargos comissionados do governo federal e reduzir a participação do Estado em serviços que não são essenciais.
Amoêdo defendeu medidas como a privatização de estatais brasileiras como a Petrobras e os bancos públicos, cuja venda aumentaria a competição no setor. Ele disse que vai promover uma reforma tributária sem elevação da carga e defendeu que o Estado deve focar nas atividades essenciais e incluiu a saúde e a educação neste rol.
“Não podemos aumentar impostos. A correção nas contas públicas tem que ser com corte nas despesas. O que queremos é uma simplificação de impostos”, disse o candidato. “Hoje, o Estado brasileiro é um grande criador de desigualdades. Ele faz isso quando dá uma educação de péssima qualidade, quando não equilibra suas contas, quando dá desonerações fiscais para grandes grupos econômicos.”
João Amoêdo afirmou que, apesar de ter grande patrimônio, isso lhe dá autonomia e flexibilidade para poder ir contra o atual sistema. “Isso me torna mais independente. Uma reforma tributária é necessária. O Brasil tem mais de 80 tributos e impostos. Calcular a carga tributária se tornou um trabalho quase que insano. Isso cria uma insegurança jurídica muito grande. Só o ICMS tem 27 legislação diferentes.”
Relação com o Congresso
Amoêdo admite que terá a necessidade de negociar com o Congresso para conseguir aprovar propostas necessárias para reformar o Estado. “A negociação com o Congresso não será fácil, mas é possível. Vou conversar, negociar, não vou sair batendo na mesa. Mas não vou me desviar dos meus princípios e valores”, disse. “Acho que teremos gente boa no Congresso. Esse grupo trabalhará de forma unida. Enquanto temos grupos trabalhando de formas diversas, cada um defende seus próprios interesses. Entendo a preocupação das pessoas porque isso nunca aconteceu ainda. Estamos acostumados com esse governo da coalizão”, comentou.
Privatização da Saúde e da Educação
O candidato do Novo foi perguntado sobre a proposta de privatização da Saúde e da Educação que está contemplado, em partes, dentro de seu plano de governo.
Ao ser questionado se isso seria assumir a falência da educação pública, ele respondeu: “A educação tem três grandes problemas. Primeiro, temos prioridade invertida. Colocamos muito mais dinheiro no ensino superior do que no fundamental e no médio. Além disso, 50% dos diretores de escolas públicas são nomeações políticas. E tem o problema dos professores, porque estamos atraindo poucos profissionais.”
Amoêdo sugeriu ainda a criação de um “vale-educação” para as famílias mais pobres colocarem seus filhos no ensino privado. “Está provado que o Brasil nas escolas públicas fica na posição número 63 e número 35 nas escolas privadas. “Quem tem renda consegue colocar seu filho numa escola privada e dá a ele muito mais oportunidades”, afirmou.
Hábitos de candidatos
Perguntado se, durante a passagem pelo Nordeste, por exemplo, iria seguir estereótipos de candidatos que andam de jegue e usam chapéu e roupas tradicionais, como forma de mostrar empatia, ele negou. “Soa falso. Não serei falso porque essa não é minha característica. As pessoas cansaram dessa falsidade”, disse.
Eleição de 1989, o voto a Collor e o antipetismo
Amoêdo, ao ser questionado sobre seu posicionamento político nas eleições anteriores, afirmou que votou no ex-presidente Fernando Collor de Mello nas eleições de 1989. Para justificar, disse: “Sempre votei contra o PT.”
Mulheres e as minorias
O candidato do Novo derrapou ao falar da função do Estado em defesa das minorias. Ao usar como exemplo as mulheres, que representam a maioria da população brasileira, as colocou junto com minorias. “Não gosto de transferir nossa responsabilidade para o Estado. Onde o indivíduo puder atuar, a gente deve fazê-lo. Tem várias condicionantes aí. A própria legislação trabalhista deveria ter uma flexibilidade maior, já que as mulheres têm uma dupla jornada.”
Porte de armas, aborto e drogas
Amoêdo também defendeu a flexibilização do porte de armas, mas disse que o assunto é mais uma questão de “liberdade pessoal” do que de política de segurança pública, que seria papel do Estado.
Ainda sobre temas polêmicos, disse ser contra a legalização do aborto, a não ser em casos já previstos pela legislação atual, e disse que não gostaria de tratar do tema da liberação das drogas nesse momento. “Um colega diz assim: a Suíça resolveu esse problema? Então vamos resolver os problemas que a Suíça já resolveu e depois a gente se preocupa com isso”, comentou.