O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou, nesta segunda-feira (17), sua licença do cargo na Câmara dos Deputados e sua mudança para os Estados Unidos. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro justificou sua decisão alegando perseguição política e mencionou um suposto risco de prisão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O movimento ocorre em meio à crescente tensão entre o bolsonarismo e o Judiciário, especialmente após os desdobramentos da investigação sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
A estratégia política por trás da decisão
A decisão de Eduardo Bolsonaro tem claras implicações políticas e pode ser interpretada como um movimento estratégico para internacionalizar o discurso bolsonarista contra o STF.
O deputado já vinha articulando encontros nos EUA com líderes conservadores e aliados do ex-presidente Donald Trump, fortalecendo sua atuação em um cenário de oposição global ao governo Lula e às instituições brasileiras.
Além disso, a licença do cargo na Câmara permite que Eduardo Bolsonaro atue sem restrições regimentais impostas a parlamentares em exercício, como limite para viagens e exigência de presença em votações.
Há risco real de prisão para Eduardo Bolsonaro?
Apesar das alegações do deputado, não há até o momento nenhum pedido de prisão contra ele no Supremo Tribunal Federal. O único processo envolvendo seu nome é um pedido de apreensão de passaporte, feito por deputados do PT e que ainda está sob análise da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Mesmo assim, Eduardo Bolsonaro declarou em vídeo:
“Se Alexandre de Moraes quer prender meu passaporte ou mesmo me prender para que eu não possa mais denunciar seus crimes nos EUA, então é justamente aqui que vou ficar e trabalhar mais do que nunca.”
A fala reforça o discurso bolsonarista de que o STF tem agido politicamente para perseguir opositores, tese que tem ganhado força entre setores da direita brasileira e grupos conservadores internacionais.
Reação do PL e impacto na Câmara
A saída de Eduardo Bolsonaro pegou lideranças do PL de surpresa. Segundo informações internas, nem mesmo a cúpula do partido havia sido avisada previamente.
O deputado era cotado para assumir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara (Creden), um dos espaços mais estratégicos do Legislativo para a agenda internacional bolsonarista. Com sua licença, o nome do deputado Luciano Zucco (PL-RS) surge como possível substituto.
A decisão também gerou um vazio no bloco conservador da Câmara, que perde um de seus parlamentares mais ativos. A ausência de Eduardo pode dificultar as articulações do PL dentro da Casa, especialmente na disputa por espaço nas comissões.
Bolsonaro e o futuro do bolsonarismo no exterior
A ida de Eduardo Bolsonaro para os EUA fortalece o movimento do bolsonarismo de criar uma rede de apoio internacional, especialmente junto a grupos alinhados ao trumpismo.
Com Bolsonaro impedido de disputar eleições até 2030, há um vácuo de liderança dentro da extrema-direita brasileira, e Eduardo pode estar se posicionando como um dos principais articuladores dessa frente no exterior.
O cenário pode indicar uma nova fase na estratégia bolsonarista, focada na construção de uma oposição externa, pressionando o governo brasileiro a partir de alianças internacionais.
O que esperar agora?
🔹 Eduardo Bolsonaro pode se tornar uma voz ativa contra o STF e o governo Lula no exterior.
🔹 A relação entre bolsonarismo e Judiciário tende a se acirrar com a tentativa de politização da sua licença.
🔹 O PL precisará reorganizar suas estratégias na Câmara sem a presença de Eduardo.
🔹 O bolsonarismo pode estar pavimentando um caminho para uma agenda internacional de oposição ao Brasil.
A licença de Eduardo Bolsonaro e sua ida para os EUA marcam um novo capítulo da crise institucional que o Brasil enfrenta desde o fim do governo de seu pai. O impacto desse movimento será medido pelos desdobramentos da investigação contra os envolvidos no 8 de janeiro e pela reação das instituições ao exílio autoimposto do deputado.