Mulheres agredidas por ex ou atuais companheiros estão preferindo se expor em redes sociais a ficarem caladas. Dois casos recentes tiveram grande repercussão no interior de São Paulo.
No dia 14, a vendedora Carla Regina Januário, de 29 anos, postou fotos do próprio rosto inchado para dar um “basta” às agressões do ex-namorado, em Votuporanga, conforme mostramos aqui no Rápido no Ar. Nesta segunda-feira foi a irmã da cabeleireira Mariana Lima dos Santos, de 25 anos, quem tomou a iniciativa de expor no Facebook o rosto dela com o olho roxo, após ser agredida pelo ex. Encorajada, Mariana repetiu a postagem em sua página na rede social.
Para a titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Itapetininga, Leila Tardelli, a exposição é uma atitude corajosa e contribui para dar visibilidade ao problema. “A gente lida com muitos casos, alguns mais graves que este, envolvendo até violência sexual.
Observo que o registro desse tipo de violência tem aumentado e quero acreditar que é porque as mulheres estão denunciando mais. Com o uso da rede social, a questão ganha mais visibilidade.”
A delegada lembra que a maioria das vítimas prefere não se expor, pelo risco de ser vitimizada pela segunda vez. “Às vezes a mulher se sente tão desprotegida que acaba recorrendo a esse meio em busca de apoio.”
Foi o que aconteceu com Mariana. Cercada pelo ex-namorado quando levava uma amiga pela praça, ela foi ameaçada e agredida com violência. A irmã Thais Cristina dos Santos, de 23 anos, a levou a uma unidade médica e, em seguida, para o plantão da Polícia Civil. “Eles estavam ocupados com um flagrante e falaram para irmos na Delegacia da Mulher no dia seguinte. Não consegui me conter, fiz as fotos e postei.”
Mariana se encorajou e também desabafou em sua página. “Meu Deus, que dor. Não são os hematomas, mas a dor da alma.” A Justiça deferiu medida protetiva contra o agressor. O pedido de prisão não foi aceito.
Em Valentim Gentil, também no interior paulista, onde Carla passou a morar após apanhar do ex, ela conta que passou a andar com a medida protetiva dada pela Justiça. “Levo (o documento) para cima e para baixo, mas tenho receio. Ele vai ser chamado e o juiz vai decidir. Por mais que eu goste, tenho de pensar em mim.” Ela voltava de uma pizzaria com o namorado – já estavam morando juntos – quando, em uma discussão banal, ele passou a agredi-la. Carla desceu do carro e pediu ajuda.
A Polícia Militar localizou o rapaz e levou ao plantão da Polícia Civil. O agressor recebeu voz de prisão por lesões corporais e ameaça, mas pagou fiança de 1 salário mínimo e foi solto. “Fiquei revoltada e postei, não só pelo meu caso, mas para encorajar outras mulheres que são agredidas como eu fui”, disse Carla. A postagem teve 4,7 mil visualizações.
A reportagem entrou em contato com o acusado de agressão a Carla, mas o rapaz alegou que foi orientado pelo seu advogado a não se manifestar. Também foi procurado o agressor de Mariana, mas, segundo a Polícia Civil, ele está foragido.
Denúncia. A delegada Ana Luiza Salomone, da DDM de Sorocaba, alerta que é preciso sempre fazer a denúncia formal para que o crime possa ser investigado e o agressor, punido. “As fotos e a publicação em rede social podem ser usadas como prova, mas é preciso procurar a polícia para que seja requisitado o exame de corpo de delito e, se for o caso, pedida a medida protetiva. Sem essas providências, o agressor não será punido e a vítima pode ficar ainda mais exposta.” Segundo ela, a medida de proteção é deferida quando se vê risco iminente à vida ou à integridade física.
Com Conteúdo Estadão