O futebol parou pelo novo coronavírus, mas os treinadores continuam a trabalhar. Agora distantes do gramado e afastados do convívio com os jogadores, os técnicos brasileiros mantêm a rotina de atividades na quarentena concentrados no celular. Mensagens e videoconferência fazem parte das rotinas de reuniões com colegas da comissão e membros da diretoria. O objetivo é planejar o que será feito nos elencos após o calendário ser retomado.
O Estado conversou com treinadores e pessoas próximas a eles para entender como tem sido a rotina de trabalho neste período. Todos revelam uma apreensão com o momento, principalmente pela dificuldade de prever um prazo para o retorno do trabalho. Acostumados com uma rotina cheia de compromissos, vários treinadores buscam usar o tempo livre para ler.
O técnico Fernando Diniz, do São Paulo, tem recorrido aos livros para ajudar a passar o tempo. O perfil do clube no Twitter até chegou a divulgar uma foto do treinador sentado no sofá enquanto se dedicava à leitura. Apesar do futebol brasileiro estar em férias coletivas até 20 de abril, os treinadores continuam a pensar no futebol e a se preocupar com as equipes.
No Palmeiras, o técnico Vanderlei Luxemburgo segue em contato frequente com auxiliares e outros membros da comissão técnica. Reuniões por videoconferência e mensagens por WhatsApp são bem comuns. Todos também têm analisado vídeos de jogos anteriores e conversado sobre possíveis mudanças no time para quando o calendário for retomado.
Quando é terminada a hora de pensar na equipe, alguns treinadores querem ficar junto dos filhos. A rotina do futebol, com viagens e concentrações, muitas vezes impede esse momento. Por isso, Thiago Carpini, do Guarani, não desgruda de Hugo, de um ano, e Caio, de sete. “A vida do profissional de futebol é muito corrida com jogos, concentrações, treinos e viagens. Temos que abdicar de algumas coisas. Por isso, neste período, além de estudar bastante venho aproveitando ao máximo os meus filhos e minha família. Apesar desse momento de incerteza que vivemos, procuro tirar as coisas boas”, disse.
Daniel Paulista assumiu o Sport em fevereiro e tem usado o tempo para conhecer melhor o elenco. “Analiso os jogos que fizemos, as características dos atletas e penso nas peças que tenho e na possibilidade de melhorar o padrão de jogo.”
A incerteza do retorno é um problema. “Na cabeça dos jogadores também passa essa indefinição. Quando o elenco está de férias em condições normais, eles fazem atividades físicas em parques, academias e jogam nas peladas de fim de ano. Agora é uma situação atípica. A dificuldade será grande para todos.”
No CRB, Marcelo Cabo, que trabalha ao lado do filho Gabriel, seu auxiliar técnico, sente “falta até da pressão da torcida”. “Todos nós estamos sentindo falta da rotina. Eu brinco que faz falta o cheiro da grama. E até a pressão da torcida, da adrenalina do jogo e das vaias. No clube eu costumo chegar cedo, faço reuniões, preparo treinos e vou embora à noite. Agora, minha rotina está bem diferente.”
Já Ricardo Catalá, técnico do Mirassol, se prepara para enfrentar “vários cenários”. “Um deles é se o Campeonato Paulista acabar e não for retomado. Nesse sentido, tenho observado jogadores para montagem de um possível elenco para a Série D, que seria o próximo passo. Temos olhado esse perfil de reforço, porque é um campeonato com características diferentes, com estilo de jogo mais brigado do que o Estadual.”