O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, autorizou na terça-feira, 26, a abertura parcial da fronteira com o Brasil, bloqueada há seis dias, para a passagem de brasileiros que estavam retidos. Os primeiros a cruzar foram 9 pacientes submetidos a cirurgias e 4 acompanhantes. Havia a expectativa, porém, de que outros 197 brasileiros atravessassem a qualquer momento.
O grupo de 13 brasileiros atravessou depois de negociações entre o Itamaraty e o governo da Venezuela, cujas tratativas envolveram também oficiais militares dos dois países em Pacaraima e em Santa Elena do Uairén.
Dos 13, nove haviam feito cirurgias em hospitais e clínicas particulares dias antes. A maior parte passou por procedimentos estéticos, como cirurgia de varizes e nos seios, mas havia também casos de operações bariátricas e oftalmológicas.
Os demais brasileiros, entre turistas e residentes na Venezuela, atenderam aos chamados do consulado brasileiro ou pediu ajuda espontaneamente para voltar – 70 haviam passado a noite anterior dormindo no chão do vice-consulado brasileiro em Santa Elena do Uairén.
Os pacientes saíram da cidade de Puerto Ordaz às 5 horas da manhã e só conseguiram entrar no Brasil às 18 horas. No trajeto, passaram por revistas em 25 barreiras militares instaladas pelo regime chavista.
Políticos e jornalistas venezuelanos acompanharam o retorno dos brasileiros, segundo a pedagoga Carla Pinheiro, de 39 anos. Moradora de Boa Vista, ela acompanhava a mãe aposentada. “A sensação de voltar é muito boa”, disse Carla. “Não tínhamos notícia de quase nada. Tive medo de não poder atravessar de volta”, disse a aposentada Ana Sueli Pinheiro, de 65 anos, que realizou uma operação na retina.
A garimpeira paraense Karen Porto, de 33 anos, disse que escolheu fazer uma cirurgia bariátrica em razão da diabetes e ficou oito dias na Venezuela. Ela disse ter planejado fazer a cirurgia no país vizinho cinco anos atrás. “Resolvi fazer para ter uma opção de vida melhor. Quando decidi, não sabia que a situação estava tão confusa assim. Lá há bons médicos. Outras amigas já fizeram a cirurgia porque lá é barato”, disse. “Soube que a fronteira estava fechada pelos jornais, mas não tive medo de voltar, porque sabia que uma hora ou outra as coisas se resolveriam.”
Ao longo do dia, o vice-cônsul do Brasil, Ewerton Oliveira, que estava à frente das negociações, relatou que a cidade de Santa Elena de Uairén, aos poucos, voltava à normalidade, sem confrontos entre forças militares e paramilitares chavistas e cidadãos insatisfeitos com o governo de Maduro.
Ele disse ter recebido o aval parcial da diplomacia venezuelana em Caracas e dos generais da Força Armada Nacional Bolivariana para priorizar o traslado dos pacientes em recuperação, embora o fechamento unilateral da fronteira permaneça. O diplomata teve de vir ao Brasil para buscar alimentos e medicamentos para as pessoas que estavam abrigadas no consulado.
Um dia antes, ele já havia conseguido atravessar um grupo de 25 turistas mochileiros que faziam uma caminhada no Monte Roraima, principal destino de aventura da região. Na volta, eles haviam se surpreendido com um cenário de caos e tiroteios na cidade de Santa Elena.