O Sistema Único de Saúde (SUS) começará a substituir gradualmente, ainda em 2024, o tradicional exame papanicolau pelo teste molecular de DNA-HPV, considerado mais sensível na detecção do papilomavírus humano. A novidade faz parte das diretrizes atualizadas para rastreamento do câncer de colo do útero, apresentadas nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Com a mudança, o intervalo entre os exames passará a ser de cinco anos para mulheres que testarem negativo para o vírus. A faixa etária para rastreamento permanece entre 25 e 49 anos, quando não há sintomas ou suspeita clínica.
A substituição do papanicolau pelo teste de DNA-HPV já foi aprovada por órgãos técnicos como a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) e aguarda apenas o aval da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Saúde para entrar em vigor.
Mais sensível e com diagnóstico precoce
Recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2021, o teste de DNA-HPV apresenta maior sensibilidade na detecção do vírus e permite identificar quais subtipos do HPV estão presentes, o que é relevante, já que apenas algumas variantes têm risco elevado de causar câncer.
Segundo o pesquisador do Inca, Itamar Bento, o novo exame também apresenta um valor preditivo negativo alto, o que significa que, quando o resultado é negativo, a chance de haver infecção é mínima — e por isso é seguro estender o prazo entre os exames.
Rastreio será ativo e mais organizado
Além da mudança no tipo de exame, o Ministério da Saúde pretende adotar um modelo de rastreamento organizado, em que a rede pública passa a buscar ativamente a população-alvo, em vez de aguardar que as mulheres procurem espontaneamente as unidades de saúde.
Com esse modelo, a expectativa é ampliar a cobertura do exame e garantir diagnóstico mais rápido e acesso ao tratamento, caso sejam encontradas lesões.
Entre 2021 e 2023, apenas três estados brasileiros atingiram perto de 50% da população-alvo com o papanicolau. Em alguns, como Acre e Maranhão, a maioria dos resultados demorou mais de 30 dias para ser entregue, dificultando o início do tratamento dentro do prazo legal de 60 dias.
Novas práticas incluem autocoleta e público trans
As novas diretrizes incluem também a autocoleta do material para exame, especialmente voltada para pessoas em áreas de difícil acesso ou que se sentem desconfortáveis com o procedimento convencional. Também foram inseridas orientações específicas para o atendimento de pessoas transgênero, não binárias e intersexuais, com enfoque inclusivo e respeitoso.