Na entrevista que deu durante a CCXP, J.J. Abrams falou sobre a responsabilidade de encerrar uma saga como a de Star Wars. Ele sabia da expectativa dos fãs, mas prometeu que, como toda a sua obra, Episódio IX – A Ascensão Skywalker se pautaria por uma busca de equilíbrio entre intimismo e escala, por essa se entendendo a grandiosidade inerente a uma série iniciada há mais de 40 anos e que atravessa três trilogias.
Ele conseguiu. Muita gente, em nome de um criticismo elementar, tentará encontrar e até destacar as fendas da estrutura dramática. Já adiantando o spoiler, tudo, em A Ascensão Skywalker, gira em torno da díade Rey/Ben, que, ao ceder ao lado sombrio da Força, virou Kylo Ren. No episódio final, o imperador Paladino está de volta e ameaça trucidar a resistência. Interessante rememorar. A primeira trilogia, iniciada lá atrás por George Lucas, contava a gênese do herói – Luke Skywalker. Cronologicamente, virou a segunda, porque a primeira, embora feita depois, é sobre a gênese do vilão, Annakin Skywalker, e de como ele vira Darth Vader. A terceira trilogia é sobre a construção de um sobrenome – a tal ascensão Skywalker.
Desde Episódio VII, quando JJ Abrams foi chamado a reformatar a série, depois que George Lucas vendeu os direitos da saga para a Disney, havia surgido uma nova heroína, Rey. Ela não tinha sobrenome, mas ninguém duvidava que seria a depositária da Força O nono episódio ilumina tudo. Nós, o público, finalmente entendemos a duplicidade de Rey, as suas vacilações quanto ao lado escuro. Kylo Ren e ela são como as duas faces da mesma moeda, ambos destroçados interiormente. Não são 100% heróis nem 100% vilões. Possuem zonas sombrias. Como nos westerns de Budd Boetticher, o mocinho e o bandido são complementares.
Alguém tem dúvida de que a Nova Ordem será vencida? Para isso Rey precisará desvendar o enigma da própria identidade. Kylo Ren voltará a ser Ben? O afeto triunfará? Muita coisa teve de ser resolvida para esse fecho – relações entre pais e filhos, a aparição de fantasmas, o retorno de velhos guerreiros, e de Leia Organa, particularmente complicado devido à morte de Carrie Fisher. A possível união homoafetiva de Finn e Poe não vai adiante, mas o filme não quebra o vínculo. É um grande fecho – intimista, humano, e com toda a movimentação e a parafernália de efeitos que a saga exige (e carrega).