Há, no Instituto Butantan, um lugar onde moram diversas aranhas e escorpiões, e milhares de grilos e baratas. É o Biotério de Artrópodes: além de abrigar espécies de aranhas e escorpiões dos quais são extraídos os venenos necessários à pesquisa e produção de soros antiescorpiônico e antiaracnídico, ele reúne milhares de insetos criados lá mesmo como suporte para a alimentação dos aracnídeos. A rotina de trabalho fica a cargo de uma equipe formada por biomédicos, biólogos, veterinários, técnicos e jovens aprendizes. Uma das salas do biotério é específica para escorpiões e chegou a reunir cerca de 15 mil exemplares em épocas mais quentes. Hoje, devido à pandemia, a prefeitura deu uma pausa na coleta. Por isso, o número caiu e agora há por volta de 12 mil.
A bióloga Denise Candido, no Instituto Butantan há mais de 30 anos, conta que é tudo muito bem controlado. Os escorpiões são divididos em caixas – cada uma abriga 300, em média – forradas com papel kraft e fita adesiva ao lado e no fundo para que os animais não escapem. Como substrato, material importante para o bem-estar dos animais e que serve de apoio no abrigo, são utilizadas caixas de ovos, e, para evitar que elas se encaixem umas nas outras, utiliza-se papelão, que fica entre essas bandejas. “Eles adoram essas casinhas de três a quatro camadas de caixas intercaladas com papelão”, explica.
Existe um cronograma com a rotatividade da alimentação. Se há 40 caixas, por exemplo, 20 caixas recebem alimento em uma semana, e 20 na outra. Água é oferecida em bandejas de plástico e em algodão encharcado. Os escorpiões se alimentam de insetos criados no próprio biotério para que não haja perigo de contaminação ou parasitas. Além disso, a qualidade do alimento está ligada diretamente à quantidade de veneno que o escorpião pode oferecer; quanto mais nutritivo, melhor. O alimento é oferecido vivo a cada 15 dias e fica de dois a três até ser retirado, estando os insetos vivos ou mortos.
A caixa recebe semanalmente limpeza e manutenção de papel, bandejas e algodão. Cada uma possui um controle fixado com os números de referência registrados na recepção de animais – por meio do código, é possível saber quando os escorpiões chegaram ao Instituto e de onde vieram. A equipe do Biotério conhece cada um deles. “Na ficha consta a origem, quantidade de animais que entraram, quando a caixa começou, quantos animais morreram. Isso é um controle que temos praticamente dia sim, dia não, durante três vezes por semana. A dinâmica da sala é bem ativa”, destaca a bióloga.
Escorpiões que moram no Butantan
De acordo com Denise, os escorpiões estão no IB com uma única finalidade: produção de soros. A bióloga, além de receber os escorpiões que chegam ao Instituto e manter os cuidados, também extrai o veneno utilizado na produção dos soros que salvam vidas. Denise diz que a veem como corajosa, mas para ela é natural e tranquilo lidar com esses animais pelo tempo que está na instituição e pela formação que possui; é bióloga e especialista em escorpiões.
As quatro espécies de interesse em saúde no Brasil são do gênero Tityus: serrulatus, stigmurus, obscurus e bahiensis. O Butantan tem exemplares de todas essas espécies, mas o plantel de produção é baseado apenas no Tityus serrulatus; por três motivos. É uma espécie muito adaptável, que vive bem no confinamento e convive tranquilamente com os “colegas” de recinto, uma vez que não são tão territorialistas. Além disso, o serrulatus é a espécie mais abundante em São Paulo. Por último, as pesquisas realizadas para a produção do soro foram baseadas nessa espécie. O soro produzido pelo veneno do serrulatus é capaz de neutralizar o envenenamento causado pelas outras três espécies de interesse em saúde no país.
A extração pode acontecer até a cada 30 dias, mas esse intervalo aqui no IB pode ser de 60 a 90 dias, já que o Biotério possui alta quantidade de escorpiões. Com a evolução dos métodos dentro e fora do Brasil, hoje a extração é feita por meio de um estímulo elétrico eletroestimulador . “Esse estímulo não afeta o escorpião. Se trata de um choque fraquinho que faz ele emitir veneno para fora. Se trata de veneno puro”, informa. Assim, o animal pode ser utilizado outras vezes.
A bióloga destaca que o método de extração passou por uma evolução positiva. Décadas atrás, era necessário matar o escorpião para tirar a última parte da cauda dele, onde ficam as glândulas de veneno, e fazer uma maceração dessas glândulas. Ou seja, para obter o veneno, era necessário eutanasiar o animal e depois macerar essa glândula com um pilão. No entanto, o veneno não saia puro, pois se misturava com pedaços teciduais da glândula e do exoesqueleto. Era necessário filtrá-lo muitas vezes para extrair somente a parte líquida.
Como os escorpiões vão parar no Biotério?
Assim que chegam ao Instituto Butantan, os escorpiões passam pela recepção de animais peçonhentos. Os vivos seguem para o Biotério de Artrópodes, recebem um número de registro e são direcionados para a sala apropriada.
Soros produzidos no Instituto Butantan a partir do veneno dos escorpiões salvam vidas
Há, no Instituto Butantan, um lugar onde moram diversas aranhas e escorpiões, e milhares de grilos e baratas. É o Biotério de Artrópodes: além de abrigar espécies de aranhas e escorpiões dos quais são extraídos os venenos necessários à pesquisa e produção de soros antiescorpiônico e antiaracnídico, ele reúne milhares de insetos criados lá mesmo como suporte para a alimentação dos aracnídeos. A rotina de trabalho fica a cargo de uma equipe formada por biomédicos, biólogos, veterinários, técnicos e jovens aprendizes. Uma das salas do biotério é específica para escorpiões e chegou a reunir cerca de 15 mil exemplares em épocas mais quentes. Hoje, devido à pandemia, a prefeitura deu uma pausa na coleta. Por isso, o número caiu e agora há por volta de 12 mil.
A bióloga Denise Candido, no Instituto Butantan há mais de 30 anos, conta que é tudo muito bem controlado. Os escorpiões são divididos em caixas – cada uma abriga 300, em média – forradas com papel kraft e fita adesiva ao lado e no fundo para que os animais não escapem. Como substrato, material importante para o bem-estar dos animais e que serve de apoio no abrigo, são utilizadas caixas de ovos, e, para evitar que elas se encaixem umas nas outras, utiliza-se papelão, que fica entre essas bandejas. “Eles adoram essas casinhas de três a quatro camadas de caixas intercaladas com papelão”, explica.
Existe um cronograma com a rotatividade da alimentação. Se há 40 caixas, por exemplo, 20 caixas recebem alimento em uma semana, e 20 na outra. Água é oferecida em bandejas de plástico e em algodão encharcado. Os escorpiões se alimentam de insetos criados no próprio biotério para que não haja perigo de contaminação ou parasitas. Além disso, a qualidade do alimento está ligada diretamente à quantidade de veneno que o escorpião pode oferecer; quanto mais nutritivo, melhor. O alimento é oferecido vivo a cada 15 dias e fica de dois a três até ser retirado, estando os insetos vivos ou mortos.
A caixa recebe semanalmente limpeza e manutenção de papel, bandejas e algodão. Cada uma possui um controle fixado com os números de referência registrados na recepção de animais – por meio do código, é possível saber quando os escorpiões chegaram ao Instituto e de onde vieram. A equipe do Biotério conhece cada um deles. “Na ficha consta a origem, quantidade de animais que entraram, quando a caixa começou, quantos animais morreram. Isso é um controle que temos praticamente dia sim, dia não, durante três vezes por semana. A dinâmica da sala é bem ativa”, destaca a bióloga.
Escorpiões que moram no Butantan
De acordo com Denise, os escorpiões estão no IB com uma única finalidade: produção de soros. A bióloga, além de receber os escorpiões que chegam ao Instituto e manter os cuidados, também extrai o veneno utilizado na produção dos soros que salvam vidas. Denise diz que a veem como corajosa, mas para ela é natural e tranquilo lidar com esses animais pelo tempo que está na instituição e pela formação que possui; é bióloga e especialista em escorpiões.
As quatro espécies de interesse em saúde no Brasil são do gênero Tityus: serrulatus, stigmurus, obscurus e bahiensis. O Butantan tem exemplares de todas essas espécies, mas o plantel de produção é baseado apenas no Tityus serrulatus; por três motivos. É uma espécie muito adaptável, que vive bem no confinamento e convive tranquilamente com os “colegas” de recinto, uma vez que não são tão territorialistas. Além disso, o serrulatus é a espécie mais abundante em São Paulo. Por último, as pesquisas realizadas para a produção do soro foram baseadas nessa espécie. O soro produzido pelo veneno do serrulatus é capaz de neutralizar o envenenamento causado pelas outras três espécies de interesse em saúde no país.
A extração pode acontecer até a cada 30 dias, mas esse intervalo aqui no IB pode ser de 60 a 90 dias, já que o Biotério possui alta quantidade de escorpiões. Com a evolução dos métodos dentro e fora do Brasil, hoje a extração é feita por meio de um estímulo elétrico eletroestimulador . “Esse estímulo não afeta o escorpião. Se trata de um choque fraquinho que faz ele emitir veneno para fora. Se trata de veneno puro”, informa. Assim, o animal pode ser utilizado outras vezes.
A bióloga destaca que o método de extração passou por uma evolução positiva. Décadas atrás, era necessário matar o escorpião para tirar a última parte da cauda dele, onde ficam as glândulas de veneno, e fazer uma maceração dessas glândulas. Ou seja, para obter o veneno, era necessário eutanasiar o animal e depois macerar essa glândula com um pilão. No entanto, o veneno não saia puro, pois se misturava com pedaços teciduais da glândula e do exoesqueleto. Era necessário filtrá-lo muitas vezes para extrair somente a parte líquida.
Como os escorpiões vão parar no Biotério?
Assim que chegam ao Instituto Butantan, os escorpiões passam pela recepção de animais peçonhentos. Os vivos seguem para o Biotério de Artrópodes, recebem um número de registro e são direcionados para a sala apropriada.
Os escorpiões chegam trazidos pela população, que os encontra em casa. Outro grande fornecedor é o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura, que realiza coletas ou recebe os animais, e depois os entrega ao Butantan. A chegada dos escorpiões acontece também por meio de troca entre pesquisadores de outros lugares e, vez ou outra, por apreensão de animais. “O IB é um fiel depositário de animais silvestres ou exóticos, então quando existe alguma apreensão desses animais, eles também acabam vindo”, explica a bióloga.
Além da utilização do veneno para a produção de soros, há pesquisadores trabalhando nos laboratórios de Bioquímica e Farmacologia do Instituto Butantan com o objetivo de entender melhor o efeito desses venenos e, até mesmo, estudando sua composição para entender se possuem utilidade ou não em algum outro uso medicinal.
Mais sobre o trabalho da equipe do Biotério
A equipe do Biotério também dá palestras, treinamentos, atende a população e dá aulas tanto para o pessoal de base – que vai de porta em porta coletar escorpiões –, como para estudantes de Ensino Médio e Ensino Superior.
A bióloga ressalta a importância de a população estar sempre muito bem informada em relação aos perigos dos escorpiões, sobre o que fazer e o que não fazer quando se deparar com eles ou quando ocorrer acidente. “Eu gosto muito de falar, primeiro de tudo, sobre a biologia do animal. Mostrar quem é ele, apresentá-lo para as pessoas. Conhecendo o animal, as pessoas aprendem o que ele precisa e o que fazer para evitar tê-lo por perto. Entender é muito importante”, ressalta. Denise conta ainda que a equipe do biotério é muito bem vista e que as pessoas que recebem os treinamentos para o controle desses aracnídeos têm adoração pelo trabalho deles.