O secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, comprou a briga da escola aberta. Durante toda a pandemia, tem sido a voz que mais defende o retorno presencial, até nas fases críticas. No entanto, mesmo com a rede paulista funcionando, os alunos não voltaram em massa. Ao Estadão, Rossieli fala das perdas na aprendizagem – principalmente no ensino médio -, do temor de grande abandono neste semestre e de uma recuperação que terá de deixar de lado o currículo.
“Ao invés de dar conteúdo novo, vamos dar revisão, conteúdos anteriores, de nivelamento. Esquece esse negócio todo aqui do currículo. É lindo, bonito, mas precisamos dar uns passos para trás para voltar a caminhar.” Ele ainda deixa claro que pretende tornar obrigatória a presença dos alunos na escola em setembro, quando todos os adultos já terão tomado a primeira dose da vacina anticovid.
Por que poucos alunos têm voltado ao presencial na rede estadual?
São muitas razões e uma delas é que já houve diversas “voltas às aulas”. Quando a gente começou, em 8 de setembro (de 2020), sabia que seria algo crescente, e assim foi, até o final do ano. Tivemos um bom desempenho até fevereiro e aí veio essa nova onda Esse tanto de casos (de covid) atrapalha muito. Porque você quebra o elo de confiança com a família, ela começa a pensar “não vou mandar agora”. Há também mentira, fake news, erro. E meias verdades, como um professor que pegou covid. Mas pegou dentro da escola ou porque foi ao restaurante, praia, supermercado? Teve também a questão de emprego, a crise financeira das famílias. O menino fazendo aula a distância de um jeito ou de outro e a família acha: ‘Meu filho está avançando, tendo algo. E ele está me ajudando aqui porque cuida do filho mais novo’.
Muitos alunos até deixaram de abandonar a escola por isso…
Sem dúvida, é só pegar os dados do Estado. Tivemos a menor taxa de abandono da história em 2020, o pior ano da educação. Por quê? Porque a gente teve todo um trabalho pra manter o vínculo com o estudante. Sabe quando é que é que vai dar, realmente, o tamanho do problema? Quando a gente disser: é obrigatório voltar para a escola agora. Vamos lá, já vamos ter vacinado, talvez em setembro. Quando chegar a esse momento, o jovem vai ter de escolher entre ajudar a família a botar o que comer em casa ou voltar à escola. Esse vai ser o maior desafio.
Qual o momento de exigir a volta presencial obrigatória?
É fundamental que a gente construa esse caminho. Se disser que é obrigado de repente, vai acabar forçando o abandono da escola. A previsão é em 15 de setembro ter vacinado todo mundo acima dos 18 anos com a primeira dose. A primeira dose é muito eficaz, já vai ter um nível de proteção mais alto. Aí é o momento de cravar que é hora de voltar.
O aluno que está no ensino online está aprendendo?
Está. Todo o esforço que está sendo feito, seja pelo Centro de Mídias aqui em São Paulo, pelo professor, trabalho no WhatsApp, sinal de fumaça… O professor está correndo atrás. Mas ele não está aprendendo o que aprenderia na escola, é preciso deixar claro. Isso está mantendo o vínculo com o aluno e com o processo de aprendizado. Mas o presencial realmente nunca será substituído na educação básica.
Nas escolas particulares, a volta presencial chega a 100%…
Isso é o aumento da desigualdade na veia. O discurso de não voltar está prejudicando o aluno da rede pública, o que mais precisa. Acho que as próximas avaliações nacionais vão ser um desastre, vai ficar muito claro o tamanho do buraco. Precisaremos ensinar dois, três anos dentro de um ano para começar a recuperar.
Quando o senhor era ministro da Educação, em 2018, disse que o Brasil estava no fundo do poço em matéria de ensino. E agora, onde estamos?
Nem sabemos se temos um conceito para baixo do porão do poço agora. Mas é importante lembrar: estamos falando de uma geração da qual precisamos cuidar, que vai ter muitas dificuldades. A maior delas ainda é para o aluno que fez o 2.º ano do ensino médio no ano passado e está no 3.º ano. Talvez eu só tenha três, quatro meses pra apoiar esse menino. É difícil a situação, tenho certeza de que a perda vai estar muito mais clara no futuro desses jovens, por não terem tido acesso ao ensino médio como deveriam.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.