O Brasil vive um período de ampliação do número de casos de câncer de pulmão. Autoridades e especialistas demonstram preocupação, depois de mais de 30 anos de campanhas pela redução no tabagismo.
A elevação pode estar relacionada a questões como o ritmo mais lento dessas campanhas ou o recente modismo do cigarro eletrônico. Em qualquer cenário, o acompanhamento médico dos fumantes, ativos ou passivos, é necessário, segundo Flávio Dias de Oliveira, médico do Sistema Hapvida NDI.
“O diagnóstico precisa ser feito o quanto antes, para que o tratamento em pacientes gere resultados”, diz o médico, que é especialista em Clínica Médica e Oncologia Clínica.
Nos últimos 10 anos, os eletrônicos – também chamados de “vape” – ganharam espaço, principalmente, entre os adultos jovens. O fato ocorreu quando a dependência do cigarro convencional vinha baixando entre a população brasileira.
O tabagismo apresenta efeitos perversos, não importando a fonte. Isso se vê até em quem deixou a dependência.
Segundo o médico, a constatação do câncer ocorre, na maioria dos casos, após 5/8 do tempo de vida do pulmão. Ou seja, os profissionais da saúde têm pouco mais de 3/8 da vida desse pulmão para buscar a recuperação.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que o Brasil destine cerca de R $125 bilhões por ano para tratar as doenças provocadas pelo tabagismo. O percentual de fumantes com 18 anos ou mais no país é de 9,1%. No total, dois em cada três fumantes são homens.
A consulta médica com frequência é fundamental, mesmo quando a pessoa deixa o tabagismo. Uma comparação reforça essa tese. A diminuição do risco de doenças cardiovasculares ocorre a partir do segundo ano sem consumo de cigarro. No caso de doenças no pulmão, são 30 anos sem consumo, diz o médico do Hapvida NDI.
Anvisa mantém proibição
A comercialização e a propaganda dos dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil desde 2009. No mês passado, a Anvisa ratificou a resolução. A medida foi adotada por precaução, já que não há dados científicos sobre os efeitos dos cigarros eletrônicos.
Esses dispositivos não geram mau cheiro na roupa ou cabelo amarelado, como o cigarro convencional. Porém, o tabagismo, em qualquer formato, envolve muitas substâncias químicas, o que afeta os bronquíolos.
“Isso leva ao câncer de pulmão. O uso desses cigarros eletrônicos pode elevar o número de casos da doença”, alerta o Dr. Flávio. O cigarro convencional tem 4.700 substâncias tóxicas, e 20% delas são cancerígenas. Daí haver a relação de patologias com tabagistas de longa data ou que consomem vários maços ao longo do dia.
Entre os sintomas de lesão, o Dr. Flávio chama a atenção para a presença de sangue no escarro. Outro alerta vem da tosse seca que não melhora.
O risco de um fumante contrair bronquite e enfisema pulmonar é pelo menos 10 vezes maior do que o de um não-fumante. Infarto e AVC são mais comuns entre tabagistas. Deixar o cigarro muitas vezes requer medicamentos, usados após prescrição médica.
A questão envolve ainda o fumante passivo. Segundo o Dr. Flávio, a fumaça que vai para o ar – inalada pelo passivo – é mais tóxica que a que passa pelo filtro do cigarro e acaba no pulmão do fumante.