Quando alguém diz que “vai levar o filho na natação” é melhor certificar-se primeiro de qual dos filhos a pessoa está falando. Existe uma chance considerável de o assunto ser o cachorro, o pet da família. Isso vale para as aulas de ioga, reiki, festinhas de aniversário, casamentos, terapia e salão de beleza.
Segundo dados do Instituto Pet Brasil, o País tem 54,2 milhões de cães vivendo como animais de estimação. O Brasil é o segundo principal mercado pet do planeta – perdendo apenas para os EUA.
No ano passado, o varejo pet nacional movimentou R$ 34,4 bilhões – alta de 4,6% frente a 2017. A estimativa é fechar este ano com R$ 36,2 bilhões. De acordo com o instituto, o gasto mensal médio com um cão é de R$ 338,76. Mas, claro, o valor pode ser superado à medida que o pet tenha demandas específicas ou uma rotina mais, digamos, humanizada.
Não à toa já tem cão gerando a própria renda, como é o caso dos cachorros influencers do Instagram. Sim, esse é um nicho mundial Milhares de pets têm os próprios perfis na rede social e se transformaram em celebridades. Os golden retrievers (@bob_marley_goldenretriever) têm 312 mil seguidores.
Nas fotos, Bob e Marley aparecem em festas de aniversário, viagens, piscinas e eventos promocionais. “O importante é que eles se divirtam”, conta o tutor da dupla, o comerciante Luiz Higa (tutor é a palavra usada para substituir dono, que já não é mais considerada politicamente correta).
Claro, se o tutor achar que o seu cão tem jeito para celebridade, ele pode procurar uma agência de modelo especializada em animais de estimação, como a Pet Model Brasil. A empresa faz a ponte entre produtoras de publicidade, TV, cinema, eventos e os animais. Os pacotes para criação de perfil custam de R$ 60 a R$ 150. “Os cachês de publicidade começam em R$ 250, mas o valor pode ser maior”, conta a proprietária da agência, Deborah Zeigelboim.
Com tanto trabalho, nada melhor do que abrir uma cervejinha ao chegar em casa. Na Padaria Pet, há cerveja em lata para cães (R$ 14, 90, em média – preço de algumas cervejas artesanais para humanos). “Nós trabalhamos com a questão da humanização do pet. Hoje, o tutor trata o cão como um filho ou um neto”, explica Arquelau So, diretor de expansão da Padaria Pet. “A cerveja em lata proporciona aquela experiência do dono abrir uma latinha para ele e para o seu cão.”
Mas beber não é a resposta para nada, e os problemas caninos também têm sido enfrentados com terapia. “Os tutores estão preocupados em entender como os cães estão se sentindo emocionalmente”, comenta o especialista em comportamento animal e idealizador da Cão Cidadão, Alexandre Rossi. Agora, não basta apenas evitar que o seu cachorro destrua seu apartamento ou não coma quando está sozinho. “Observando o comportamento é possível entender as causas e saber como agir em favor do bem-estar animal.”
Se a terapia não for o suficiente, o cachorro pode experimentar algo mais alternativo, como cromoterapia, acupuntura, reiki ou ioga. Na Casa do Equilíbrio Pet, a veterinária Sandra Clemente Fernandes trabalha para equilibrar o campo energético de cães e donos. “O reiki funciona com a transmissão de energia universal para o animal. Na ioga, você tem a interação do cão com o seu tutor. A animal também entra em sintonia e relaxa ao ver os movimentos do tutor.”
Tem pet que prefere os esportes. A natação (ou o simples lazer na água) ajuda na fisioterapia e no humor dos cães. Locais como a Pet Play e a Dog Fun têm piscinas adequadas para o deleite animal. “Os cães naturalmente conseguem nadar. Claro que isso vai depender de cada um. Um golden, por exemplo, pode nadar umas duas horas sem problemas; outras raças, por 45 minutos”, conta Isabel Blanco, proprietária do Dog Fun.
Para terminar um dia tão cheio de atividades, os cães podem vestir as melhores roupas (como um moletom com capuz, estilo cantor de rap), visitar um salão de belezas (que além do banho vai tratar da coloração e do penteado) e partir para festas e casamentos. A Caza Eventos tem um setor só para a organização de festas caninas.
“Organizamos festas como se fossem para crianças, com petiscos, lembrancinhas, bolo. A única diferença é que os petiscos não ficam disponíveis para o cão pegar o tempo todo, já que eles não têm limites”, afirma a responsável pela Pet Party, Carla Zajdenwerg. Carla contou que já organizou até um casamento entre cães. “Foi uma brincadeira entre os donos de cães que estavam para cruzar.”
Uma pet party pode ser simples ou luxuosa. Segundo Carla, a versão básica de um evento canino sai por R$ 1,5 mil. Também é possível contratar serviços de fotógrafos especializados e Dog Taxi, motoristas que se dedicam ao translado dos animais.
Ao sair da festa e terminar o dia, talvez o cãozinho não tenha mais tempo para correr atrás de bolinhas. Vai chegar em casa como fome e pedir comida pela internet, em uma espécie de iFood canino de comida natural – como refeições à base de batata doce e mandioquinha. Depois, antes de dormir, vai tomar um Cãofé, mistura em pó feita com leite de soja, farinha de alfarroba e aroma e café.