Após ser mencionado em grampos da Operação Ouro Verde, que investiga desvios na área da saúde, o prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB), será investigado pela Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo.
A Operação Ouro Verde, deflagrada no dia 30 de novembro, encontrou a fortuna de R$ 1,2 milhão na casa de um servidor público de Campinas, a cem quilômetros da capital São Paulo. O servidor disse que o dinheiro é oriundo da venda da fazenda de seu tio.
A investigação aponta que um grupo por trás da organização social Vitale, que administra o Hospital Ouro Verde, usa a entidade, que não deveria ter fins lucrativos, para obter indevida vantagem patrimonial.
Em meio às investigações, o Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público Estadual de São Paulo afirma ter encontrado ‘indicativos de que o prefeito de Campinas, Jonas Donizete, detentor de foro por prerrogativa de função, poderia, ao menos, em tese, ter algum tipo de participação nos fatos investigados, com favorecimento de fornecedor da Organização Social em troca de indevida contraprestação’.
“Constatados os fatos envolvendo autoridade com foro por prerrogativa de função, foram cessadas as atividades investigativas, com elaboração da presenta manifestação para a análise do Juízo, com o requerimento de encaminhamento dos autos ao Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo”, diz o MPE.
Segundo narra o Gaeco, ‘em agosto deste ano, quando a Vitale estava deixando de pagar fornecedores e os seus representantes estavam em plena negociação com o Poder Público buscando celebrar um aditivo ao contrato, visando a maiores recursos públicos, Ronaldo Foloni, que é Diretor Geral da Vitale no Hospital Ouro Verde, recebe uma ligação de Gustavo Khattar de Godoy, que passa a chamada para quem ele identifica como seu pai, Sylvino’.
“Na conversa, Sylvino afirma ter conversado com o Silvio Bernardin, que é secretário Municipal de Assuntos Jurídicos, o qual teria garantido que o aditivo iria ser aprovado. Sylvino afirma que também havia falado com o Prefeito de Campinas, Jonas Donizete, o qual afirmou que novos recursos ingressariam nos cofres públicos, o que viabilizaria o aditivo pretendido. Ronaldo afirma que presisa de uma data até para poder passar uma data para o Gustavo, para ele se organizar, deixando claro que precisava da aprovação de novos recursos para poder pagar Gustavo”.
Sylvino Godoy Neto é diretor presidente da Rede Anhanguera de Comunicação.
“Em outra ligação, entre Foloni e Tata Bortoncello, presidente da Vitale, afirma ter ouvido de Gustavo Khattar que a ‘Vitale só havia vencido o certame em Campinas graças à intervenção do seu pai com o prefeito Jonas Donizette, uma vez que, em troca de cessar matérias negativas que eram realizadas pelo jornal contra a SPDM, entidade que antecedeu a Vitale na gestão do Hospital Ouro Verde, o prefeito garantiu ao seu pai que a nova os contrataria os serviços de imagem de Gustavo”,narra o MPE.
Defesas
O prefeito Jonas Donizette se defendeu das acusações por meio de nota oficial:
“O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, repudia qualquer forma de uso indevido de seu nome por quem quer que seja. Como se tornou público nos últimos meses, o prefeito vem enfrentando a Vitale de forma direta, defendendo os interesses da população. Nenhum dos vários pedidos de aditivos feitos pela Vitale foi atendido. Este enfrentamento culminou com a intervenção no hospital Ouro Verde e a demissão dos servidores públicos acusados. Os diálogos divulgados mostram claramente a dificuldade da Vitale em ter acesso ao prefeito e a contrariedade por não ter os seus pleitos atendidos, tanto que chegaram a recorrer à via judicial. Isso reforça a lisura de comportamento por parte do prefeito em confronto com interesses escusos.”
A reportagem não conseguiu contato com a OS. Já o advogado Ralph Tórtima, que defende Sylvino de Godoy, enviou o seguinte posicionamento: “Não é verdade que Sylvino de Godoy tenha tido qualquer ingerência na contratação da Vitale pela Prefeitura. Isso jamais ocorreu! Nem ele, nem seu filho Gustavo conheciam essa empresa antes de ela firmar contrato com a Prefeitura Municipal de Campinas. O que ocorreu foi que o Dr. Silvino de Godoy externou à Administração Pública Municipal sua preocupação com a crise enfrentada pelo Hospital Ouro Verde, por conta da falta de pagamento aos fornecedores e ao corpo clínico como um todo, o que colocava em risco a continuidade dos serviços prestados à população.”
O advogado Ralph Tórtima, que defende Gustavo Godoy, afirmou que ele “não tem envolvimento com os fatos”: “Tanto assim que se antecipou às investigações e já forneceu ao Ministério Público amplos esclarecimentos no sentido de evidenciar a sua desvinculação com o que se investiga. Inclusive, a sua condição junto ao Hospital é absolutamente idêntica à dos demais médicos, estando sem receber remuneração há mais de 3 (três) meses. Ou seja, nunca teve qualquer privilégio ou obteve qualquer vantagem indevida”.