Sem receber uma partida oficial desde 29 de fevereiro, o Estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido popularmente como Pacaembu pela sua localização, completa 80 anos da sua inauguração nesta segunda-feira, até mais ativo do que anteriormente. Afinal, teve sua estrutura transformada em hospital para ajudar no combate à pandemia do coronavírus e a salvar vidas.
Foi, aliás, o primeiro hospital de campanha a entrar em funcionamento em São Paulo, epicentro da doença no País. A construção da infraestrutura de 6.300m² levou 12 dias, tendo sido entregue em 1º de abril, quando a Organização Social de Saúde Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, assumiu a unidade e instalação da estrutura e dos equipamentos hospitalares fez a higienização e o treinamento dos funcionários, recebendo o primeiro paciente no dia 6.
Idealizado para atender apenas pacientes de baixa e média complexidade, transferidos de outros equipamentos de saúde da capital, o hospital temporário possui 200 leitos, com oxigênio disponível para todos, além de salas de estabilização e de acolhimento dos familiares, tendo estrutura para realizar diagnóstico por imagem e exames de sangue e urina. “O Pacaembu é um local onde muita gente foi chorar, de tristeza ou alegria, para o seu time de futebol. É icônico para São Paulo, um cartão-postal. E agora se reveste de mais importância, atendendo a população”, definiu o prefeito de São Paulo, Bruno Covas.
O “jogo” contra a virose é o mais importante de uma história de glórias do octogenário Pacaembu, um estádio que nasceu e construiu a sua trajetória como um dos símbolos da cidade. A arquitetura, com traços de art déco, o que incluía em seu projeto original a concha acústica, posteriormente substituída pelo tobogã, é ainda considerada uma das mais belas dos estádios brasileiros, mesmo com a construção e inauguração de vários outros nos últimos anos. “É o estádio onde você está mais próximo do campo. Perto bastante para ver o jogo e longe suficiente para observar o campo todo”, define o jornalista José Maria de Aquino.
Além de ter se transformado em hospital de campanha, 2020 está marcado na história do Pacaembu por ter passado para as mãos da iniciativa privada. A Allegra Pacaembu assumiu a gestão pelos próximos 35 anos. Neste primeiro, foram realizados três jogos: a decisão da Copa São Paulo, uma partida do Palmeiras e um clássico entre o clube alviverde e o Santos.
A administradora assumiu estádio, a piscina, as quadras de tênis, o estacionamento e o ginásio poliesportivo. O Museu do Futebol, que funciona embaixo das arquibancadas, e a Praça Charles Miller seguem sob gestão do município. E a reforma do complexo, que inclui a demolição do tobogã, deverá começar em 2021.
Nesse contexto, a sua utilização como hospital de campanha parece ter vindo para confirmar o conceito de patrimônio da população logo no momento em que foi repassado para a iniciativa privada. “Nunca imaginamos que viveríamos um momento como esse, como cidadão ou empresário”, reconhece Eduardo Barella, presidente da concessionária Allegra Pacaembu.
Ele aponta, porém, para o peso histórico do momento em que assumiu a gestão do estádio. “É mais um capítulo bonito, que vai ficar marcado na história. Vai passar e o Pacaembu continuará a contar a história da cidade, sendo onde todo mundo tem uma história e uma relação afetiva. Isso vai torná-lo ainda mais bonito, como uma marca”, avalia.
A opinião é compartilhada por Muricy Ramalho, que trabalhou no estádio como jogador e técnico, também tendo frequentado as arquibancadas como torcedor. “É o estádio de todo mundo. É engraçado que todas as torcidas e times gostam de jogar lá. Ele representa a cidade de São Paulo. Eu adorava”, afirma. “Para a história do Pacaembu ficar completa, só faltava essa parte social, ajudando a salvar vidas”, concluiu.