A organização da 34ª Bienal de São Paulo informou hoje (1º) a nova data da mostra, alterada em virtude da pandemia de covid-19. Inicialmente prevista para começar em outubro próximo, a exposição deve ocorrer entre 4 de setembro e 5 de dezembro de 2021, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera. Com a mudança, o evento voltará a ser realizado em anos ímpares, tradição interrompida em 1994.
“Em março, adiamos a bienal de setembro para outubro. [Agora] achamos que não tínhamos outra alternativa, senão passar para o ano que vem. Primeiro, não temos segurança. Se fôssemos realizar em outubro, teríamos que começar a montagem agora e achamos que colocaríamos sob risco a saúde de montadores, colaboradores, equipes, curadores e artistas. Depois, há restrições de viagens, particularmente as internacionais, que prejudicam a nossa capacidade de trazer os artistas convidados para executar as obras, prejudicam a gente para trazer as obras emprestadas que tínhamos planejado para a exposição”, disse o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, José Olympio da Veiga Pereira.
“Na nossa visão, não íamos conseguir realizar o objetivo da bienal, que é atingir um grande público nacional e global, mostrando a arte contemporânea”, explicou, ressaltando que a Bienal de Veneza, a mais antiga do mundo, também optou por alterar o calendário, passando para 2021.
O público pôde conferir algumas das atividades planejadas pela 34ª Bienal em fevereiro deste ano. Estavam marcadas a exposição individual da artista peruana Ximena Garrido-Lecca, que reconta a história do Peru e explora o impacto cultural dos padrões neocoloniais, e uma performance do sul-africano Neo Muyanga.
Programação intermediária
Durante a entrevista de hoje, os organizadores também anunciaram que estão preparando uma programação intermediária, que irá compreender ações educativas, digitais e de programação pública. Em junho, foi lançada uma publicação educativa do evento, a Primeiros Ensaios, que teve três mil visualizações.
Complementando o pronunciamento do presidente da fundação, o curador-geral desta edição da bienal, Jacopo Crivelli Visconti, afirmou que o adiamento representa uma vantagem para se compreender o evento.
“Desde o começo, a gente pensou em uma exposição que fosse se formando ao longo do tempo e do espaço e na qual a curadoria propunha leituras específicas para cada obra e que deixava muito claro que são modificadas ou influenciadas pelo contexto onde acontecem”, explicou.
Neste edição da bienal foi firmada parceria com 25 instituições culturais paulistas para realização de mostras paralelas. Como a reordenação da agenda as afeta, Visconti ressaltou que as condições de manter as atividades serão analisadas caso a caso, levando em conta a possibilidade que cada uma das instituições tem de se restabelecer frente aos desafios da crise sanitária.
Ele destacou ainda que “temas que se entrelaçam” na edição, como a resistência, o trânsito de pessoas e o enclausuramento imposto aos artistas durante uma criação, agora ganham relevância com a pandemia. Para que tenham maior ênfase na mostra coletiva, a curadoria pretende utilizar objetos que produzam enunciados e chamem a atenção dos visitantes.
“Relacionado a esse primeiro ponto está o desejo de trabalhar a exposição como um ensaio aberto, onde o próprio processo de construção não é entendido como algo separado, que precisa ser expandido, mas algo que é compartilhado com o público. Ao mesmo tempo, a gente busca reafirmar o papel da bienal como uma instituição e um evento com uma força e uma liderança no contexto da cena artística de São Paulo e do Brasil. Então, busca-se um diálogo, não só numa coincidência de datas em que as instituições fazem suas exposições, junto com as da bienal, mas de concepção da 34ª edição”, finalizou o curador.