O total de mortes de ciclistas na cidade de São Paulo entre janeiro e outubro deste ano cresceu 55% em relação ao apurado pelo governo do Estado no mesmo período de 2016. Foram 31 mortes, ante 20 no ano passado. O total de 2016 já foi superado nos primeiros 10 meses de 2017.
Os dados são do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga), divulgados nesta terça-feira, 21.
Cruzamento entre os locais dos acidentes, fornecido pelo Infosiga, e o mapa da rede cicloviária da cidade de São Paulo, obtido no portal da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), mostra que três dessas mortes ocorreram dentro das ciclofaixas da cidade. Outra três mortes ocorreram a uma distância de menos de 20 metros das vias segregadas.
O número de mortes nas ciclovias pode ser maior, uma vez que não há informações georreferenciadas de todos os casos.
O aumento das mortes de ciclistas já vinha sendo apurado ao longo do ano pelo órgão. Se considerado apenas o mês de outubro, cujos dados foram lançados hoje, há uma estabilidade: quatro ocorrências em 2017 e quatro em 2016.
O total de vítimas de acidentes de trânsito fatal na cidade, no entanto, está em queda. No acumulado do ano, a redução é de 5,8% em relação ao mesmo período de 2016 (746 mortes, contra 792 no ano passado). Levando em conta apenas o mês de outubro, a queda foi de 5,5% — de 73 no décimo mês de 2016 para 69 agora.
Posicionamento
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes informa que “implantou este ano medidas permanentes para reduzir acidentes e aumentar a segurança nas vias de São Paulo, entre as quais os programas Trânsito Seguro, 100% Pedestre, Pedestre Seguro, Marginal Segura e M’Boi Segura, além de ações específicas para motos e condutores de transporte coletivo, reforço na fiscalização e melhorias da sinalização nas vias”.
Ainda segundo o texto, “os números divulgados pelo Infosiga são mais uma contribuição para a análise dos acidentes ocorridos na capital paulista. Essa avaliação tem sido objeto de estudos técnicos para a implantação de medidas de segurança em toda a cidade”.
“Sobre as ciclovias, a atual gestão tem defendido um amplo diálogo com a sociedade, a comunidade de ciclistas, comerciantes e representantes das prefeituras regionais para buscar a melhor utilidade à rede existente, oferecendo segurança, corrigindo falhas e garantindo a conectividade entre as rotas de bicicletas e os meios de transportes coletivos”, conclui o texto.
Reação
O cicloativista William Cruz diz acreditar que este aumento esteja relacionado a uma mudança de comportamento por parte dos motoristas, que estariam menos respeitosos diante dos ciclistas. “É uma questão conjuntural”, afirma. “Ao longo dos últimos anos, vínhamos tendo um aumento da rede de proteção ao ciclista com mais infraestrutura. Agora, há um entendimento que o ciclista tem espaço demais”, diz.
Para Cruz, “há um clima de antagonismo na cidade. As pessoas não veem o ciclista como outra pessoa que também está fazendo uma viagem. Veem como um inimigo do comércio, do trânsito. Chegam a dizer que as ciclovias, ciclofaixas, causam mais poluição, porque aumentam o trânsito”, argumenta.
“Eu tenho sentido mais agressividade. Há uma minoria de maus motoristas que aceleram, não dão espaço para o ciclista. É um pequeno grupo, mas basta um único mau motorista para matar uma pessoa”, afirma.