Um dos dirigentes mais conhecidos e respeitados do futebol amador de Limeira nos deixou hoje. Faleceu aos 74 anos, Francisco Aparecido Pereira, o “Chicão”, que comandava o Santa Cruz desde 1975.
Uma das grandes alegrias do dirigente era ter o troféu Waldemar Lucato, relativo às cinco conquistas alternadas da Copa Gazeta.
Chicão nasceu em Limeira no dia 19/08/1946. Era filho de Aparecido Francisco Pereira e de Antônia Barbosa Pereira.
Em entrevista a Edmar Ferreira na Gazeta de Limeira em 2008, quando completava 61 anos, Chicão disse que sua maior tristeza era ter perdido o seu pai em 1979, vítima de um infarto fulminante. “Ele era um agricultor muito forte, que nunca tinha ficado doente. Sua morte pegou todos de surpresa, pois ele era um verdadeiro chefe de família. Ele caiu nos meus braços. O Dia dos Pais para mim é sempre difícil de encarar, pois eu era muito apegado com ele”, disse com lágrimas nos olhos.
A infância de Chicão foi sofrida. De origem humilde, assumiu o lugar do pai e ao lado de sua mãe, cuidou dos outros sete irmãos, os gêmeos Everaldo e Evaldo, as gêmeas Inês e Cristina, além de Luzia, Luiza e Odete.
Chicão tinha apenas um filho, o eletricista Leandro, fruto do seu primeiro casamento com Nádia. E ele gostava de curtir os netinhos Milene, Brenda e Matheus.
Na infância, Chicão estudou na escola Leovegildo Chagas e fez cursos no Senai. Sua profissão era mecânico de máquinas pesadas, da linha agrícola. Desta forma, trabalhou 12 anos na Comercial Batiston, que hoje não existe mais. Foram outros oito anos na Massei Ferguson e em seguida começou a trabalhar por conta própria, mais precisamente quando inaugurou a Limerania Auto Center, situada na Vila Queiroz.
O barracão abrigava todos os domingos o famoso “Terceiro Tempo” do Santa Cruz. Apesar de respirar futebol, Chicão dizia que foi um péssimo centroavante no passado.
Chicão fundou o Santa Cruz em 1975. “Meus amigos frequentavam na época o Bar do Natal, na Vila Queiroz. Montamos um time e passamos a realizar vários amistosos. Todos tinham amor pelo esporte e isso me motivou a fundar um time para participar do Campeonato Amador de Limeira”, contou na entrevista.
Segundo ele, os mais antigos diziam que antes de se chamar Vila Queiroz, o bairro era conhecido como Vila Santa Cruz e por isso, Chicão usou o nome. Com a morte do limeirense Mário de Souza Queiroz, uma homenagem foi feita a ele, transformando o bairro em Vila Queiroz.
Foi o mesmo Chicão que escolheu as cores do Santa Cruz. “Sempre adorei o vermelho e o branco. Nunca mudamos de cor”, afirmava.
Sob seu comando, o Santa Cruz foi sete vezes campeão da Copa Gazeta nos anos de 1992 (em cima do Ypiranga), 1994 (em cima do Cruzeiro), 2003 (em cima do Grotta), 2004 (em cima do Mixto Tabajara), 2005 (em cima do América), 2006 (em cima do Az de Ouro) e 2007 (novamente em cima do Az de Ouro). Em razão dessas conquistas, ficou de posse definitiva do Troféu Waldemar Lucato e da Copa Ouro.
Ganhou o Campeonato Amador em 1990, 1995, 2009, 2010 e 2011. Faturou outros troféus, como Copa Limeira, Copa Boa Vista, Copa Verão, Copa Amizade, Copa João Ferraz e o Torneio dos Campeões.
Na entrevista, Chicão disse que o jogo mais inesquecível de sua vida aconteceu em 1992. “Enfrentamos o Santa Rosa, no Paulistano, pelas semifinais. O time do Jaguari era o bicho-papão da época e por isso jogamos na retranca. Começamos o jogo com 10 homens na defesa e apenas um no ataque. Para piorar a situação, Bimbão e Beleza foram expulsos. Jogamos fechadinhos e num contra-ataque o Nenê Tatu fez o gol da vitória. Fomos para a final e vencemos o Ypiranga por 3 a 2, no Estudantes. Foi um título festejado como se tivéssemos conquistado uma Copa do Mundo”, comentou.
Chicão também apontou os três jogadores mais importantes da história do Santa Cruz: “Espero que aqueles que não forem citados não fiquem chateados comigo, mas o Guerreiro, o Ronaldo e o Nenê Tatu merecem uma estátua no clube. Não posso deixar de citar o Claudinho Arruda, que foi um fora de série, jogando 11 anos comigo. Agradeço à todos que vestiram a camisa do Santa Cruz ao longo desses anos”, dizia.
Chicão foi presidente e treinador ao mesmo tempo por 18 anos. Depois passaram pelo comando do Santa Cruz o João Lopes, Nazaré, Niltinho, Cascata, Roberto Martins, Betinho do Sindicato, Eraldo Bachin, Edmilson Foguinho, entre outros.
Chicão nunca escondia que a pessoa mais importante de sua vida foi o empresário Roberto Martins. “Devo minha vida a ele. Não tenho palavras para descrever o que sinto por ele”. Também citou Felipão e o roupeiro Marcos.
O agora saudoso Chicão sempre afirmou que um dos maiores dirigentes do futebol Amador foi Luiz Maria, do Santa Rosa. “Ele é uma pessoa boníssima, de caráter, que não tem maldade no coração. É acima do normal, que luta por seus ideais, mas sempre com muito respeito aos adversários. Ele é um grande amigo que tenho. Não é à toa que o Santa Rosa sempre foi o nosso maior rival, mas apenas dentro das quatro linhas”, frisou.
Chicão morreu sem realizar o maior sonho de sua vida: transformar o Santa Cruz em um time profissional em Limeira. “Você conhece o Roberto Martins né?. Se desse cinco minutos nele, ele colocava o Santa Cruz para disputar um Campeonato Paulista”, completou.