O medo de infecção pelo novo coronavírus fez com que algumas mulheres evitassem fazer a mamografia, exame para detectar o câncer de mama e que ajuda a reduzir a taxa de mortalidade pela doença em até 30%. Um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (Fidi) apontou uma queda de 53% na realização do exame entre março e setembro, em relação ao ano passado, na rede pública do Estado. Levantamento semelhante foi feito no HCor, onde a redução foi de 46%.
Atrasar o exame pode ter impactos no tamanho da lesão, no tratamento e na possibilidade de cura, explica Vivian Milani, médica radiologista da Fidi. “Quando se faz o rastreamento é possível encontrar tumores pequenos, que não são palpáveis. Então, tira-se menos tecido, com possibilidade de simetrização da mama. Quando o tumor é menor, podemos preservar o mamilo. Uma vez com câncer de mama, o tumor vai evoluir.”
Mastologista do HCor, Afonso Nazário diz que a lesão pode crescer em questão de meses. “Em seis meses, em média, ele duplica. Tem tumores que duplicam em um mês.”
Ele lembra que a quarentena começou em março. “Se a paciente fez um delay (intervalo) e foi em setembro, o prognóstico piora, o tratamento pode ficar mais agressivo. Se antes bastaria fazer cirurgia e radioterapia, pode precisar fazer quimioterapia.”
O Instituto Nacional de Câncer estima que 66,2 mil novos casos de câncer de mama serão registrados no Brasil em 2020.
No HCor, segundo Nazário, houve queda em praticamente todos os setores da área de oncologia. “O movimento da oncologia clínica caiu 45%. Na mamografia, caiu 46%. Em março, houve uma queda de 20% em cirurgia. Em abril e maio, caiu em 80% a procura por mastologista. Em junho e julho, voltou 50% e, em agosto, estava beirando 90% do que era.”
Vivian diz que mulheres que adiaram o exame devem manter o check-up anual mesmo com o atraso e o procedimento pode ser feito com os devidos cuidados para evitar a covid-19. “Não dá para pular este ano, porque ele existiu. A questão do atraso do diagnóstico foi algo que o mundo inteiro percebeu e, no ano que vem, a gente vai conseguir notar o quanto foi devastador, porque é uma doença que já matava com o exame anual”, afirma.
A síndica Katia Helena Fortunato, de 56 anos, iniciou um acompanhamento com mastologista em 2019 após sentir dor em uma das mamas. Ela fez uma mamografia e deveria repetir o exame em março passado, mas com a covid resolveu adiar. “Estava com muita dor e tinha um vergão no meu peito no ano passado. O médico passou uma segunda mamografia para o começo de março, mas deixei para fazer em agosto.”
Embora o primeiro resultado não tivesse apontado problemas, ela temia algo sério. “Estava preocupada. De repente, poderia ter alguma coisa e eu esperando a pandemia. Graças a Deus, não deu nada.”
Segundo as recomendações do Ministério da Saúde, a mamografia deve ser feita entre os 50 e os 69 anos a cada dois anos quando não há sintomas. “As sociedades médicas recomendam que seja a partir dos 40 anos e de forma anual. A mamografia é o único exame de imagem que diminui a taxa de mortalidade de 20 a 30%”, diz Vivian.
Balanço
A Secretaria Estadual da Saúde informou que a média de mamografias nos três primeiros meses do ano foi de 95 mil por mês, semelhante ao registrado em 2019. Nos meses de abril e maio, houve queda de 78% nos procedimentos, e alguns foram reagendados.