Neste domingo (9 de maio) é comemorado o Dia das Mães. É o segundo ano em que a data é marcada por apelos por isolamento social e pelo medo do contágio pelo novo coronavírus. E o que dizer daquelas mães que atuam na linha de frente no enfrentamento à doença? Elas convivem ao mesmo tempo com a dor do próximo e com o medo de carregar para dentro de suas casas um inimigo invisível, que neste domingo já tirou a vida de mais de 420 mil pessoas em todo o Brasil.
A técnica em enfermagem Edina Silva, de 38 anos, atua na Unidade Referência do Coronavírus (URC) em Limeira (SP) desde o início das atividades e divide seu amor pela profissão com o medo ao voltar para casa e se encontrar com a filha e a neta, de apenas 5 meses. Mas também alimenta o sentimento de satisfação por ajudar a salvar vidas e também de gratidão pela saúde dos familiares mantida ao longo da pandemia.
Edina foi mãe aos 17 anos. Sua filha, Júlia, tem 22 anos e é mãe da pequena Maria Alice, de 5 meses. “É complicado mesmo deixar aquele cenário devastador (na URC) e ir para casa. Mas temos mesmo que levar a vida, ficar com a neta, com a filha, almoçar juntas, enquanto meu coração destruído fica do outro lado. É um amor dividido”, define a técnica em enfermagem, que relata emocionada a exaustão dos profissionais que atuam diretamente com pacientes da Covid-19.
“É muito difícil a hora que chego em casa, depois de ver mortes acontecendo, pessoas sendo entubadas, com falta de ar, desconforto… Mas tenho que deixar tudo lá e dar uma palavra de ânimo à minha filha, ser uma pessoa feliz, participar da vida delas, ao mesmo tempo pensando na tristeza que outras vidas estão sentindo. Eu estou feliz com minha filha, com minha neta, ao mesmo tempo vendo que o amor de alguém sempre está indo, todos os dias, por causa desse vírus devastador”, lamenta a profissional.
CUIDADOS DIÁRIOS
A profissional conta que uma série de cuidados tem sido seguidos desde que a pandemia começou. Ela atuava na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Abílio Pedro e trabalha também na Santa Casa de Limeira. Após o trabalho, todo o uniforme é removido e ela toma um banho ainda no hospital. Em casa, um novo banho e muito álcool gel mantém a rotina de cuidados para não se infectar com o vírus. Isso porque, além de sua saúde, está em jogo a vida da filha, antes gestante, e agora também da netinha. “Com medo do vírus, eu passo álcool gel até no cabelo por causa dela”, conta.
Edina foi a primeira pessoa vacinada na cidade de Limeira. Em 21 de janeiro de 2021 ela recebeu a primeira dose da Coronavac, representando os demais profissionais da linha de frente em uma cerimônia simbólica. Hoje, Edina está completamente protegida com as duas doses, mas sabe que a possibilidade de se contaminar ainda existe, por isso não descuida.
“Tenho o meu papel de mãe, de dar o melhor para minha filha e minha neta. Eu gosto de estar presente, de ter contato físico, de estar perto. Mas tenho que estar de banho tomado sempre, é aquela transformação de corpo, de alma, de mente, de tudo. Ao terminar cada plantão, o que faço é agradecer a Deus, pedir a Jesus que me proteja, que me guarde enquanto eu faço a minha parte, pensando no paciente e em minha família”, conta.
A técnica em enfermagem conta também temer por seus pais e pela avó, hoje também vacinados. Mas todos ainda vivem temerosos com a pandemia. “Graças a Deus eles não foram contaminados. Eu agradeço a Deus. Mas fico com o emocional abalado que não tenho nem palavras para falar sobre isso. A primeira onda foi assustadora, mas a segunda onda está sendo devastadora”, diz.
Sua indignação é com a indiferença de parte da população, que promove aglomerações e ignora medidas de combate à pandemia. “Cada paciente que chega lá me deixa muito comovida. Que vírus maldito! De onde vem isso? Como está matando tanta gente assim? A gente fica revoltado! E se isso está acontecendo, é porque não há isolamento”, se indigna.
Ainda assim, Edina não desiste de sua missão como profissional de linha de frente no combate ao coronavírus. “Quando fui convidada para ir para lá, eu senti medo (de trabalhar na URC) por causa da minha família. Mas ao mesmo tempo em que eu coloquei a nossa vida em risco, eu coloquei o paciente em primeiro lugar. Eu amo o que eu faço, eu estou aqui para cuidar de vidas. Somos soldados, estamos numa guerra, sou guerreira sim! Deus está vendo meu esforço, dedicação, meu amor e minha paciência. Essa garra e alegria está dentro de mim. E eu agradeço à Maria Fernanda, à Fernanda Cantão, ao Nilson e à Samantha, que estão à frente da URC”, finaliza.
À todas as mães que atuam no combate à pandemia, às mães que perderam seus filhos e entes queridos, às mães que também convivem diariamente com o medo e a dúvida, nosso Feliz Dia das Mães!