O jornalista Washington Novaes morreu na noite dessa segunda-feira, 24, em Aparecida de Goiânia (GO), aos 86 anos. Um dos pioneiros na cobertura de meio ambiente e povos indígenas no Brasil, Novaes não resistiu a complicações de uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino descoberto em março.
“Eu e meus irmãos ficamos órfãos de um pai extremamente generoso, mas acho que também muita gente fica órfã de uma referência para o jornalismo brasileiro, um pioneiro do jornalismo ambiental que trouxe para a grande comunicação as pautas ambiental e da defesa dos povos indígenas”, disse ao Estadão o cineasta Pedro Novaes. “Espero que nesse momento trágico que a gente está vivendo em todos os sentidos – político, social, sanitário, ambiental e para os povos indígenas – que o exemplo dele possa, de alguma forma, guiar a gente um pouco nessa reconstrução do nosso País.”
Novaes passou pelas principais redações do País, como O Estado de S. Paulo, Veja, Folha de S.Paulo e TV Globo, como editor do Jornal Nacional, Rede Bandeirantes e TV Cultura. No Estadão, publicou até 2018 artigos na seção Espaço Aberto. Em texto de outubro de 2018, com o título “O clima esquenta, a agropecuária sofre”, escreveu: “aquecimento global, atingindo todos os continentes, todos os países, todos os viventes, não é problema que possa ser enfrentado apenas sacudindo os ombros e seguindo em frente com um assovio. Os preços são altos. Por mais que os ‘céticos do clima’ neguem os efeitos desastrosos, eles estão diante dos olhos de quem queira ver. E afetam o bolso dos produtores”.
“Nas colunas do Estadão, ele vinha com essa assertividade na denúncia do que não remetia ao uso inteligente e da promoção de um desenvolvimento que, para ser de fato efetivo, precisa ser sustentável”, disse em vídeo publicado no Twitter o jornalista André Trigueiro, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da GloboNews. “O Brasil perdeu o mais importante pioneiro do jornalismo ambiental.”
O jornalista Fernando Gabeira conversou com Novaes há cerca de duas semanas. “Ele costumava me enviar os artigos, e ultimamente escrevia muito sobre energia solar, entrava em detalhes, inclusive da própria indústria”, disse Gabeira, que destaca a profundidade com que o colega tratava dos temas que abordava. “Ele fazia muita pesquisa. Os artigos que escrevia eram realmente trabalhados, que acrescentavam muitos conhecimentos. Além do mais, era uma grande figura humana.”
Novaes conquistou o Prêmio Esso Especial de Ecologia e Meio Ambiente, em 1992, por artigos sobre a Eco-92 publicados no Jornal do Brasil e a medalha de prata no festival de Cinema e TV de Nova York, em 1982, pela direção do documentário “Amazonas, a Pátria e a Água”, veiculado pelo Globo Repórter.
Um dos trabalhos mais conhecidos do jornalista é a série documental “Xingu – A Terra Mágica”, que venceu premiações em Cuba e na Coreia do Sul, sendo selecionado para a Sala especial da Bienal de Veneza em 1986. Pioneiro no pagamento de direitos de imagens aos indígenas brasileiros, Novaes foi responsável por produzir cenas que deslumbraram o País. Foram dois meses de gravação em 1984, quando desbravou costumes e ajudou a criar celebridades internacionais, como o cacique Raoni. Mais de duas décadas depois, em 2006, o jornalista voltou ao local e, testemunha de mudanças, filmou cenas e personagens que havia encontrado antes para o documentário “Xingu, a Terra Ameaçada”.
Novaes teve uma breve passagem em cargo público – ocupou, entre 1991 e 1992, a Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal.
Nascido em Vargem Grande do Sul (SP) em 3 de junho de 1934, Novaes morava em Goiânia. No Twitter, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), lamentou a morte: “perdemos uma referência no jornalismo ambiental”, disse.