O que uma piscina de bolinhas, uma frase irreverente em néon e drinque com algodão-doce têm em comum? Uma aparência que permite fotos irreverentes. Essa característica também é conhecida por outro nome: “instagramável”.
O conceito é presença cada vez mais frequente na decoração e nos produtos oferecidos em espaços de São Paulo – e de outras tantas cidades. Por enquanto, nem mesmo o recente anúncio de testes para ocultar as curtidas do Instagram desacelerou a tendência.
“Já publiquei duas (fotos) daqui”, contou o coordenador comercial Ederson Soares, de 36 anos, cerca de 30 minutos após entrar em um novo espaço instagramável de São Paulo. “As cores são muito convidativas, eu fico empolgado.”
Soares estava na exposição temporária Museu Mais Doce do Mundo, que reúne 15 “espaço-instalações” coloridos e interativos em um casarão nos Jardins, zona sul de São Paulo. Em um mês, a hashtag da mostra foi usada mais de duas mil vezes apenas no Instagram. “É um lugar para passar um tempo bacana e compartilhar se você quiser”, descreve Luzia Canepa, diretora da iniciativa no Brasil
Com proposta semelhante à americana Museum of Ice Cream, a exposição basicamente é formada por cenários coloridos (muitos cor-de-rosa) e focados em diferentes tipos de doce. Nas paredes, somam-se frases como “donut worry” (trocadilho com don’t worry, não se preocupe em inglês) e “a felicidade só é real quando compartilhada”, dentre outros.
Em alguns pontos, é possível obter mais informações sobre os doces por meio de um aplicativo. Durante o tempo em que o Estado esteve no local, contudo, apenas uma família usou o recurso, enquanto os demais visitantes (a maioria formada por mulheres, jovens adultos e crianças) exclusivamente tiravam fotografias.
O espaço mais disputado era a piscina de marshmallows, em que as crianças aproveitavam para brincar com os doces falsos e os adultos faziam poses. O ambiente foi um dos preferidos da estudante de Medicina Veterinária Isabela Guerra, de 20 anos, que vestia um macacão preto com detalhes em laranja. “Queria uma coisa confortável e que ficasse bonita nas fotos.”
Já a cinegrafista Vera Santos, de 32 anos, critica o limite de 10 minutos para tirar fotos na piscina. Ela tem o perfil Musa_Fatness, de comida. “É bacana, mas o tempo é curto. Nem deu tempo de focar direito”, reclama Vera.
Consumo
“Comer com os olhos” é uma expressão que ganhou outro sentido com o “instagramável”. Além do aspecto apetitoso, restaurantes, cafeterias e bares têm apostado em cardápios de aparência inusitada. Um dos casos é o Caulí Bar, em Pinheiros, na zona oeste, cuja carta de drinques é elaborada em conjunto por um bartender e um “criativo”, responsáveis por aliar sabor e aparência. Eles sentam juntos, tentam associar um pouco as coisas, da experiência da pessoa com o sabor”, diz Carolina Warzee, uma das sócias. Uma das opções autorais é o Dark Clouds Over the Sea, em que um pedaço de algodão-doce parece quase levitar como uma nuvem sobre a taça.
O local foi criado em 2018 por parte dos sócios do Olívio Bar, também conhecido pelos drinques de apresentação irreverente. “No Caulí, a gente já resolver trazer um pouco disso para o ambiente, criou frases, pensou até nos porta-guardanapos. Foi todo pensado, cada quadrinho.”
Segundo Carolina, frequentadores resolvem visitar o espaço após verem fotos em redes sociais. “Hoje, a maior parte das reservas já entra pelo Instagram”, conta. O público tem majoritariamente entre 25 e 35 anos. De acordo com ela, quando pedem o drinque, tiram a foto primeiro e, depois, experimentam.
Em todo canto
O “instagramável” tem potencializado também espaços mais tradicionais. O já tão fotografado Beco do Batman tem filas frequentes em um grafite com grandes asas. Outro caso é o do Theatro Municipal, que criou um momento específico para os visitantes tirarem fotos após as apresentações.
Professor da Mackenzie, o cientista político Marcio Juliboni pontua, contudo, que, em muitos casos, a experiência de tirar fotos se torna um fim em si, apenas para postar nas redes. “Estive na exposição da Tarsila do Amaral (no Masp). Na frente do (quadro) Abaporu, para cada pessoa que parava para ver o quadro, as cores, tinha 50 que paravam para bater selfies.”