A Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), estatal de saneamento do Rio, foi acusada nesta segunda-feira, 27, de submeter a condições insalubres de trabalho parte dos encarregados de aplicar carvão ativado no sistema da estação de tratamento do Guandu.
A situação foi denunciada com a divulgação de vídeo gravado, segundo o sindicalista Valdemir de Carvalho, na sexta-feira, 24. Ele mostra um presidiário, que participava da tarefa, deitado após passar mal durante o serviço. A gravação viralizou nas redes sociais.
“Estamos trabalhando nessas condições. O irmão passou mal. Outro também. Eu estou aqui. Essa aqui é a roupa que estamos usando. Estamos trabalhando assim (neste momento o vídeo mostra um presidiário com uniforme azul comum da Fundação Santa Cabrini e uma pequena máscara no pescoço). O carvão vem na nossa cara. O irmão deitado aí passou mal e caiu. E ninguém está socorrendo o irmão”, diz o prestador de serviços. Ele gravou o vídeo, no qual funcionários da Cedae aparecem com roupas e máscaras bem diferentes.
Segundo a direção do Sintsama-RJ, sindicato que representa os trabalhadores da Cedae, a empresa montou um grupo com seus empregados e presidiários para aplicar o produto. Os detentos receberam equipamentos diferentes dos trabalhadores. São mais simples e inadequados para a situação, acusa Carvalho, diretor executivo do sindicato na empresa. Os presos foram contratados por intermédio de uma fundação vinculada ao governo do Estado.
“Esse serviço é insalubre, mas os funcionários usam equipamentos adequados, então em relação a eles não há maiores problemas. Mas os presidiários não têm experiência, então não deveriam estar prestando esse serviço”, afirmou o sindicalista.
O carvão ativado está sendo adicionado para tirar da água o cheiro e gosto de terra, causados pela geosmina produzida pela explosão de algas nos rios da região, provocada por despejo de esgoto. A Cedae já foi acusada de demorar a admitir problemas na água e também a mudar o tratamento dela. O carvão começou a ser adicionado na quinta-feira passada, dia 23.
Equipamento recomendado
Em nota, a Cedae afirmou que “os trabalhadores envolvidos na aplicação do carvão ativado estão utilizando o equipamento de proteção individual recomendado pela empresa que presta o serviço”. Declarou ainda que “os funcionários receberam equipamentos de proteção individual, conforme orientação da empresa que está no local oferecendo treinamento para operar o sistema”.
A empresa declarou ainda que o presidiário “não estava se sentindo bem mesmo antes do expediente e não relatou o fato”. De acordo com a nota, o homem, depois de “realizar atividade que exige esforço, sentiu-se mal e recebeu todo o suporte da companhia”. A empresa afirmou também que “a utilização do carvão ativado não tem relação com o fato ocorrido”.
Ainda na nota, a Cedae afirma que não havia no mercado brasileiro empresa que pudesse fornecer rapidamente todo o volume de carvão ativado em “bags” de 500 kg cada.
“Para atuar com a agilidade que o momento exige, a Cedae recebeu uma parte do produto em sacos menores e, com isso, parte da carga precisou ser descarregada por empilhadeira com suporte manual”, explicou. “A partir desta semana, serão recebidas apenas as ‘bags’, que não exigem trabalho manual, sendo a operação 100% automatizada.”
A reportagem tentou contato com a Fundação Santa Cabrini, responsável pela contratação dos presos. A instituição não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. O espaço está aberto.