Ainda em meio à mais grave pandemia do século, o cotidiano nas cidades vem se alterando nas maneiras de se relacionar, estudar, trabalhar e, naturalmente, morar. O setor imobiliário apresenta mudanças tanto em relação aos números do setor, quanto às adaptações que os imóveis precisam receber para a nova realidade de trabalho remoto de muitos profissionais, bem como o maior tempo que as famílias passam em casa devido ao distanciamento social
Muito se fala em êxodo das grandes cidades, mas nem todas as estatísticas corroboram a tendência. A cidade de São Paulo, por exemplo, teve número recorde de venda de imóveis nos primeiros semestres de 2020 e 2021. Os períodos, somados, alcançam cerca de 47 mil novos imóveis vendidos na cidade, segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP).
Para o vice-presidente do Secovi, Emilio Kallas, fatores como a queda nas prestações de apartamentos e a percepção da importância de uma casa para as famílias ajudam a explicar os números. Já em relação aos aluguéis, a grave situação decorrente da pandemia de covid-19 levou muitos inquilinos e proprietários negociarem ajustes e congelamentos nos valores, tornando a situação mais estável para ambas as partes. Muitos desconsideram, por exemplo, índices que tradicionalmente são usados para reajustes anuais, como o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M).
Morar e trabalhar no mesmo local funciona?
Pesquisa recente realizada pela Global Line, empresa brasileira especializada em treinamento e consultoria, em parceria com a norte-americana Worldwide ERC, com profissionais de 145 empresas multinacionais que atuam no Brasil, mostrou que 91% deles disseram que a atividade é “muito parecida com o presencial” e a maioria (58%) afirmou estar “muito confortável” com o home office. Dados do IBGE mostram um salto de 9,1% de brasileiros com nível superior completo ou pós-graduação trabalhando de forma remota no período de novembro de 2020 para 28,7% em maio deste ano. Neste contexto, o espaço para o trabalho dentro de casa se apresenta como uma nova preocupação deste trabalhador.
Para Danilo S Souza, professor da Geo Sem Fronteiras, este novo cenário pode melhorar a qualidade de vida de quem trabalha em casa: “é fato que muitas pessoas que desempenham atividades administrativas ou gerenciais conseguiram notar o valor do home office com base no aumento de produtividade quando excluídas trajetórias de ida e volta do escritório, assim como aumento de qualidade, uma vez que estar perto de nossos entes familiares e animais por mais tempo tem essa carga positiva. Isso acabou influenciando todo o mercado imobiliário, tanto na busca por espaços que pudessem ser adaptados para home offices, quanto em reformas nas construções já existentes com o mesmo fim”, pondera.
Sobre os ajustes e cuidados que devem ser considerados nas plantas das casas e apartamentos, Danilo, que é professor do curso de ‘Fundamentos de Projetos Civis com AutoCAD e SketchUp’ prossegue: “todo o espaço deve ser previamente planejado de acordo com o perfil das pessoas que ali estarão, então é interessante, sim, levar em conta a atividade a ser desenvolvida e as pessoas que usarão esses espaços de trabalho, buscando aliar conforto e proximidade do lar sem deixar de lado a privacidade ou a atenção dessas pessoas”.
Perspectivas para o home office e para a arquitetura
O professor fala sobre o futuro do trabalho remoto e dos profissionais envolvidos na arquitetura e construção civil: “acho legal pontuar que a tendência futura é de que as pessoas tenham cada vez mais independência em suas vidas profissionais, o que pode ter aspectos positivos e negativos, porém, de toda forma, é relevante pensar que essas novas configurações dos espaços passarão a demandar ainda mais profissionais técnicos que também sejam criativos e possam propor diferentes formas de solucionar o mesmo problema”, afirma.
Danilo finaliza: “acredito que a indústria civil seja uma das mais promissoras para o ingresso de novos profissionais nos próximos anos, tanto do lado de quem atua de seu home office, quanto daqueles que criam ou adaptam estes espaços para outros profissionais”.