Na sexta-feira 6 de novembro de 1964 a região central de Piracicaba foi sacudida por um estrondo seguido de uma grande nuvem de poeira. Na sequência, gritos de pedidos de socorro se misturavam ao som de sirenes dos carros do Corpo de Bombeiros, ambulâncias e viaturas policiais.
Há 55 anos, a cidade vivia a maior tragédia de sua história, quando parte do edifício Luiz de Queiroz desabou matando cerca de 50 pessoas – a maioria trabalhadores da obra do que seria o maior prédio do interior paulista.
Antes da catástrofe, o edifício Luiz de Queiroz passou a ser conhecido popularmente pelos piracicabanos como Comurba, abreviação de ‘Companhia Melhoramentos Urbanos’, empresa que construiu o prédio.
A construção teve início nos anos 1950 e, na época da queda, as obras ainda não tinham sido totalmente finalizadas. A arquitetura do prédio era moderna e imponente, semelhante ao edifício Copan, na cidade de São Paulo (ambos foram contemporâneos em relação ao período de construção, entre os anos 1950 e 1960).
O projeto do edifício era assinado pelo arquiteto Fábio Penteado e estava com 14 andares construídos, com 54 apartamentos aguardando as famílias proprietárias e outra ala – quase pronta – para salas comerciais. No térreo, já funcionava o Cine Plaza, de propriedade de Francisco Andia, com capacidade para 1.300 pessoas. A área contava com 22 mil metros quadrados, a maior construção do interior.
Um ano antes da tragédia, o jovem João Chaddad se formava arquiteto. No Comurba, ele desenvolvia projeto de decoração em um apartamento no primeiro andar e também desenvolvia o ‘Clube dos 120’ – o espaço social do edifício que fazia alusão ao número de proprietários dos apartamentos e salas comerciais do prédio. “Eu apresentei as pranchas, mas nem chegou a começar a construção”, contou.
Aos 84 anos, Chaddad lembra com detalhes daquela sexta-feira. “Eu estava fazendo um projeto para um apartamento e esperava o dono para conversar. Marcamos para as 13h, mas ele tomou uma taça de vinho e dormiu, então fui para o meu escritório às 13h30, quando cheguei lá, soube que o prédio havia caído”, contou.
Chaddad disse que voltou ao local rapidamente e ficou surpreso com o cenário. “Eu ajudei a retirar corpos dos escombros”, lembrou.
Apesar de o número oficial de mortos nunca ter sido determinado, o arquiteto conta que foram 54 pessoas mortas. Além do Jornal de Piracicaba que na edição do dia 7 de novembro de 1964 trouxe a manchete “Impressionante catástrofe abalou a cidade”, a notícia da tragédia foi repercutida em todo o país e no mundo, como acredita Chaddad. “Foi um abalo muito grande para o Brasil e repercutiu no mundo inteiro”, lembrou.
Imagens: Centro de Documentação Câmara de Vereadores de Piracicaba
Mercado
A queda do edifício Comurba também abalou o mercado imobiliário da cidade. Na época, Piracicaba começava um processo de verticalização que ficou estagnado por mais de dez anos, conforme destacou Chaddad.
Ele disse que possuía outros cinco projetos de prédios que foram paralisados após a tragédia. Assim como os culpados nunca foram apontados, os proprietários de apartamentos e salas do edifício nunca foram indenizados. “Eu mesmo tinha uma sala no prédio e tive que doar à prefeitura para que ela derrubasse o segundo prédio”, contou.
O presidente do Ipplap (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba), Arthur Ribeiro destacou que a população ficou com medo de comprar apartamento e o prédio desabar. “A Comurba acabou em dissolução e as outras construtoras não arriscaram lançar novos empreendimentos no período”, lembrou.
De acordo com o arquiteto João Chaddad, em valores atualizados, um apartamento do Comurba valeria atualmente entre R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão.