Aos 83 anos de idade, o capitão/PM Augusto Carlos Cassaniga se recorda quando, 50 anos atrás pulou de uma altura de três metros em direção ao topo de um edifício em chamas. Foi o incêndio do Edifício Joelma, que deixou 187 mortos e marcou a vida não só das vítimas, amigos e familiares, mas também das equipes que participaram do resgate, evitando uma tragédia ainda maior.
Cassaniga, que na época morava no quartel, estava de folga no dia do desastre, mas não hesitou em atender ao chamado daquele que seria o maior incêndio da capital paulista, e um dos maiores do país. Ele foi o primeiro bombeiro a entrar no topo do prédio, localizado na região central de São Paulo.
Hoje, o capitão relembra aquela que foi a ocorrência que mudou a sua vida. “Eu fiquei no meio daquelas vítimas e percebi que estavam em pânico, elas viam as línguas de fogo e corriam de um lado para outro, algumas caíam e saltavam. Eu consegui usar psicologia de massa e fazer com que todos ficassem no centro do telhado, onde as chamas não iam alcançá-los. Com a minha chegada lá, ninguém mais saltou lá de cima”, lembra.
“Teve uma moça, que havia entrado entre a telha e a laje, puxei-a com muita dificuldade, ela estava com o corpo quente e mexia os lábios tentando dizer ‘não me deixe morrer’. Fiz de tudo: reanimação, massagem cardíaca, mas não teve jeito. Ela morreu nos meus braços e sinto até hoje. Tinha muita gente, mas essa moça não conseguimos salvar”, lamenta o capitão ao relatar aquele como o pior momento para ele.
O incêndio trouxe comoção nacional e a necessidade de se debater tecnologia e o código de obra para que não houvesse outras tragédias deste tipo. Depois do incêndio, não teve outro igual em perdas de vida.
Para o capitão Augusto Cassaniga, o que fica de lição é o valor à vida. “A melhor lição que nós temos é dar valor à vida, agradecer todos os dias o ar que respiramos, a água que bebemos, a alimentação que nós temos, e foi isso que ficou de lição”, finalizou.
Prêmio Coronel Hélio Barbosa Caldas
Nesta quinta-feira (1), 11 bombeiros militares receberam o prêmio Coronel Hélio Barbosa Caldas, durante evento no Plenário 1º de Maio, na Câmara Municipal de São Paulo. Os bombeiros foram homenageados pela atuação no combate ao incêndio no Edifício Joelma, que completa 50 anos, uma das maiores tragédias urbanas do país.
“Essa homenagem aqui é singela, porém grandiosa ao mesmo tempo, porque homenageia esses verdadeiros heróis que ajudaram a construir o nome dessa instituição, que é reconhecida e valorizada pelos brasileiros. O exemplo é a melhor forma de deixar um legado e os senhores são heróis de toda uma sociedade”, disse o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante discurso de agradecimento aos 11 bombeiros.
A homenagem é concedida anualmente aos cinco bombeiros que mais se destacaram por atos heroicos à população, contudo neste ano pelo cinquentenário do prêmio, serão destinados aos bombeiros que atuaram diretamente no Edifício Joelma. O coronel Hélio Barbosa Caldas, que dá nome ao prêmio, se destacou no combate aos incêndios no Edifício Andraus (1972) e no Edifício Joelma (1974), ambos ocorridos na capital.
A premiação foi criada 10 anos após a morte do militar, pelo ex-vereador Antônio Goulart.
Incêndio no Edifício Joelma
O edifício Joelma pegou fogo depois de um curto-circuito. O incêndio destruiu 14 pavimentos, deixou 187 mortos e mais de 300 feridos e é considerado uma das maiores tragédias da história do Estado de São Paulo.
O Joelma não tinha saídas de emergência e o resgate foi dificultado pela falta de equipamentos adequados. As cenas de pessoas se jogando das janelas correram o mundo e chamaram a atenção para a falta de segurança das edificações da época.