Basta acessar alguma rede social por alguns minutos para perceber a quantidade de informações que estão circulando naquele espaço. Textos, fotos, vídeos e notícias surgem a cada atualização em uma velocidade extraordinária. O que torna, portanto, impossível a absorção de todo o conteúdo propagado na esfera digital.
Mais do que isso, essa realidade coloca em xeque todo o processo de comunicação de uma sociedade. Estar vulnerável a avalanches de dados torna necessário a vigilância de grande parte das informações que recebemos diariamente. Diante disso, a veiculação de mensagens com autenticidade duvidosa se torna mais um dos obstáculos da atualidade.
As chamadas fake news ganharam uma proporção muito grande nos últimos anos. Elas nada mais são do que notícias falsas que se disseminam rapidamente com diversos propósitos e em diferentes contextos por meio das conexões digitais. Há diversos fatores que estão relacionados a sua criação, que vai desde humor até a utilização como um negócio a fim de atingir objetivos de interesse próprio.
Uma nova forma de espalhar um boato?
A professora de mídias digitais e e-commerce da Etec Parque da Juventude, Dayane Iglesias, explica que esse fenômeno não é uma novidade. Segundo ela, as fakes news sempre existiram nas relações interpessoais.
“Com a internet, elas tiveram uma propagação maior. As pessoas em geral não são mais apenas consumidoras e sim produtoras. Elas também participam do processo de criação, por isso ganham um volume muito grande e muito rápido”, explica.
Obviamente, boato sempre existiu. A diferença, no entanto, está na forma com que ele é sustentado na sociedade. Quando certos grupos enxergam uma maneira de obter dinheiro por meio da divulgação de informações falsas ou distorcidas, maior a concretude dessa situação.
“A grande questão das fake news é que elas são feitas da maneira mais atrativa possível para parecer verdade. Os conteúdos podem estar relacionados a fatos que são colocados fora de contexto por algum interesse político, econômico ou social. Por isso, elas podem favorecer ou prejudicar alguém”, completa.
Impactos no mundo real
A proporção que elas têm tomado chamam atenção sobretudo de especialistas em direito digital. Alterar a essência do fato pode, desse modo, criar uma linha bastante tênue com os crimes contra a honra.
Ainda não há leis que amparam todo tipo de conteúdo divulgado na internet. Segundo o advogado especialista na área, Igor Reichow, existem projetos que visam controlar as fakes news. No entanto, ele explica que criar um mecanismo legal de controle pode ser uma estratégia conturbada.
“O que dever ser feito é tratá-las como um problema de internet. Por isso, é necessário trazer uma nova legislação que não impute uma pena dura e sim agilize a notificação e a retirada do conteúdo”, comenta.
Outro ponto que o advogado levanta é que a população se tornou o principal agente dessa propagação porque carece de informações. “O que determina a diminuição da importância da fake news é a educação do povo. Antes de compartilhar as coisas, ele deve checar”, completa.
Sem dúvida, esse cenário já se tornou um fenômeno social que ainda precisa ser bastante estudado. Antes de tudo, trata-se de uma questão de ética, pois a vulnerabilidade do ambiente digital tornou o processo de difamação mais fácil e mais efetivo.
A psicóloga e professora do Instituto de Psicologia da USP, Leila Tardivo, fala que para compreender o motivo dessa situação é necessário compreender o que leva as pessoas a compartilharem conteúdos sem checar a procedência.
“O que nós observamos é que varia do nível social e econômico, mas todo mundo está exposto. Muitas vezes as pessoas compartilham por uma questão de autoestima, para que os outros pensem que ela é mais bem informada. Ou ainda, pode ser pura questão de popularidade dentro das redes sociais”, ressalta Tardivo.
Tanto ela quanto o advogado enxergam que a melhor maneira de amenizar essa realidade é por meio da conscientização dos cidadãos. “Não podemos fazer de conta que não está acontecendo. Isso é um reflexo do que a sociedade está vivendo. Os mais velhos têm um papel fundamental diante dos jovens. Eles precisam mostrar e orientar essa realidade e não contribuir com ela”, lembra a psicóloga.
Afinal, o que são as fakes news?
Quando o assunto é o impacto que as informações possuem diante a um grupo, é necessária uma perspectiva da análise de discurso. Em outras palavras, compreender como os discursos se comportam na sociedade.
Assim como a professora da Etec explicou, a pesquisadora do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) da Unicamp, Cristiane Dias, comenta que a grande questão é que a população passou a fazer parte da produção das fakes news.
“Não quer dizer que ele criou a notícia, mas ele se sente dentro da produção já que ele pode compartilhar, comentar, fazer circular a informação. O processo de viralização também faz parte”, disse.
Segundo a especialista, a linguagem é a grande armadilha para impactar os espectadores. Por meio de uma linguagem simples e sem profundidade, essas notícias divulgam o que o público quer ouvir, por isso ele se identifica muito rápido.
Como identificá-las
Dayane Iglesias comenta que durante as aulas que ministra na entidade procura dar dicas para que os seus alunos não se enganem pelas fakes news. De acordo com a professora, existem diversos estudos que procuram apontar algumas características comuns.
“Checar a credibilidade da fonte, ficar atento à data de publicação e aparência do site, observar o link da notícia, verificar as referências que a reportagem utiliza são alguns fatores a serem identificados”.
Além disso, ela comenta sobre a necessidade de procurar informações fora daquela notícia, como pesquisar a credibilidade do autor.
No entanto, todos os especialistas lembram que as fakes news não precisam sempre ser divulgadas apenas pelos meios digitais. De maneira geral, não se pode acreditar em tudo o que os amigos e os familiares afirmam e compartilham.