O Laboratório de Neuroimagem do Hospital da Clínicas da Unicamp associado ao Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (Brainn) realiza um estudo em pacientes de covid-19 para avaliar o impacto da doença no sistema nervoso a longo prazo.
“É extremamente intrigante e não sabemos a razão pela qual o vírus causa tantos problemas neurológicos. A via olfatória é uma possível porta de entrada, mas não apenas ela justificaria os problemas”, explicou Clarissa Lin Yasuda, neurologista da Unicamp e uma das autoras da pesquisa.
Por meio de ressonância magnética, serão avaliadas pessoas que tiveram alterações neurológicas na fase aguda e apresentam sintomas após a recuperação, aquelas que tiveram poucas alterações e assintomáticos.
A Unicamp e o Brainn já têm um projeto para identificar fatores de risco para complicações neurológicas em pessoas que adoeceram por conta do novo coronavírus. O objetivo é ajudar na prevenção desses problemas, tanto os imediatos quanto os tardios.
“No processamento de imagem conseguimos detectar alterações cerebrais sutis. A hipótese é que o vírus poderia causar alterações estruturais ou mesmo da função cerebral, ou até algum grau de atrofia”, avaliou a neurologista.
Desde o início da pandemia, pesquisadores tentam desvendar a ação no corpo humano do Sars-CoV-2 que, apesar de ser um vírus respiratório, ataca diversos órgãos e pode levar à morte não somente pelo dano que causa ao pulmão.
Publicações recentes nas revistas científicas New England Journal of Medicine e Brain registram os sintomas neurológicos em pacientes com a doença, que variam de perda de olfato e formigamento à encefalite e acidente vascular cerebral (AVC).
Nenhum desses estudos conseguiu detectar a presença do vírus no líquor – líquido presente no cérebro e na medula espinhal. “Parece que os efeitos não ocorrem por ação direta do vírus e sim por mecanismos mais indiretos que fazem lesões no sistema nervoso”, disse Clarissa.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido avalia que diversas sequelas físicas, cognitivas e psicológicas devem persistir em pacientes, principalmente as respiratórias, se a covid-19 seguir os padrões da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).
O Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde aponta que 50% dos pacientes mais graves sobrevivem. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a chance de sequelas aumenta em pacientes graves que tiveram permanência prolongada em unidade de terapia intensiva (UTI) e necessidade de usar aparelhos respiradores. A recuperação pode levar de três a seis semanas ou mais.