A União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou nesta terça-feira, 13, manifestações em todo o País para protestar contra os cortes na área da educação. Os estudantes defendem ainda a autonomia das universidades e são contrários ao programa Future-se, do Ministério da Educação (MEC). O projeto tem o objetivo de atrair investimentos privados para as instituições públicas e regulamentar a participação das organizações sociais na gestão.
De acordo com a UNE, o Future-se tem o objetivo de “sucatear para depois privatizar” a educação. Às 10h30, os atos desta terça já eram o assunto mais comentado no Twitter Brasil com as hashtags #Tsunami13Agosto e #TsunamiDaEducação.
Autoridades e instituições ligadas ao tema se manifestaram sobre os protestos. A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) afirmou que o contingenciamento de R$ 348 milhões divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) na semana passada “afetará a compra e a distribuição de centenas de livros didáticos que atenderiam crianças do ensino fundamental de todo o País”.
Já a presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS), Carina Vitral, afirmou que enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não “arredarem o pé dos cortes e ataques ao povo” os estudantes não deixarão as ruas.
Intitulado “3º Grande Ato em Defesa da Educação”, as manifestações ocorrem, segundo a UNE, em mais de 150 cidades dos 26 Estados e no Distrito Federal. Os dois primeiros protestos foram nos dias 15 e 30 de maio.
São Paulo
Na capital paulista, centenas de estudantes, professores e manifestantes de movimentos sociais ocupavam parcialmente o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) na tarde desta terça-feira. Terceiro protesto convocado desde o anúncio de contigenciamento de 30% em verbas de universidades federais, a concentração para o ato fechou a Avenida Paulista apenas no sentido da Rua da Consolação, por onde uma passeata deve seguir em direção à Praça da República.
“Acho que a população está mais indignada, porque os efeitos dos cortes na educação começam a aparecer agora”, diz o presidente da UNE, Iago Montalvão. Ele diz que o protesto também é motivado por atos recentes do presidente do Jair Bolsonaro, como a demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. “Estão negando a ciência, negando o método científico.”
Os manifestantes também criticam o mais recente programa anunciado pelo Ministério da Educação, o Future-se, que promete autonomia financeira a universidades federais. A UNE classifica o projeto como uma “tentativa envergonhada de privatização das universidades”. A proposta da pasta inclui o repasse a organizações sociais (OS) de projetos em áreas de ensino, pesquisa e inovação.
“Esse projeto foi apresentado em qualquer diálogo com a academia, o que é bem preocupante”, afirma o estudante Guilherme Bianco, que cursa Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e integra a executiva da UNE.
Balões e bandeiras de várias entidades de classe foram colocados no vão livre do Masp, entre elas do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), do sindicato dos professores municipais (Aprofem), da UNE, de entidades que representam estudantes secundaristas, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da Central Única Trabalhadores (CUT).
O congelamento de 30% do orçamento das universidades federais ainda mobiliza o movimento. Segundo a CUT, 32 cidades no Estado de São Paulo estão mobilizadas em protestos pela educação.
“Balbúrdia é cortar dinheiro da educação”, dizia uma das faixas confeccionada pelos estudantes, em referência a uma entrevista do ministro Abraham Weintraub ao jornal O Estado de S. Paulo, no fim de abril.
No entanto, o movimento tenta afinar o discurso com outras bandeiras da oposição ao governo Bolsonaro, como o coro “Lula Livre” e a crítica à reforma da Previdência. Partidos como PSOL e PSTU marcam presença no ato.
“Nós temos de criar um clima de discussão em torno das nossas propostas, não reação às deles”, considera o professor Francisco Fonseca, que dá aulas de Ciência Política na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e na Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O que a extrema direita quer é interditar o debate público no Brasil.”
Alguns manifestantes também carregam cartazes com o rosto de Fernando Santa Cruz, morto na ditadura militar, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. “Herói dos estudantes”, diz o cartaz confeccionado pela UNE.
Rio de Janeiro
Centenas de pessoas se reúnem ao redor da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, na tarde desta terça.
Realizado simultaneamente em várias cidades brasileiras, o ato foi convocado pelas redes sociais pela UNE, pela CUT e por outras entidades da sociedade civil. No Rio, a maioria dos manifestantes é estudante de escolas públicas. Às 16h30, lideranças estudantis discursavam em carro de som. A Polícia Militar observava, e o ato transcorria de forma pacífica.
Por volta das 18 horas, os manifestantes seguiriam em caminhada até a sede da Petrobras, também no centro do Rio. Normalmente o ponto final dos protestos é a Cinelândia ou a estação férrea Central do Brasil, mas o destino foi alterado, segundo os organizadores, para que o ato sirva também como protesto contra a venda de ativos da petroleira estatal.
Salvador
Estudantes, professores e outras categorias da sociedade civil participaram de manifestação em Salvador na manhã desta terça-feira. Com faixas, cartazes e bandeiras, eles começaram a se concentrar na Praça do Campo Grande, na região central da cidade, por volta das 9 horas, e, de lá, saíram em caminhada até a Praça Castro Alves, provocando lentidão no trânsito naquela região.
O ato contou ainda com a presença de centrais sindicais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores da Bahia (CUT-BA) e de políticos do PT e PCdoB.
“Com essas manifestações, estamos defendendo a democracia e a soberania nacional. Somos contra os cortes na educação e a reforma da Previdência, que está tramitando no Senado, além da privatização das universidades públicas, entre outras medidas que vem sendo adotadas pelo governo Bolsonaro”, disse Cedro Silva, presidente da CUT-Bahia.
Já o representante da UNE, Natan Ferreira, explicou que o movimento dessa terça é uma continuidade das manifestações iniciadas no mês de maio. “Por muito tempo estivemos distantes da universidade, mas, hoje, queremos participar e reivindicar. A revolta com esse governo é porque a gente conseguiu democratizar o espaço universitário, e não podemos deixar voltar atrás”, comentou.
A presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub), Raquel Nery, revelou que as mobilizações tendem a se fortalecer a partir de agora. “Cobrar respeito e melhorias tem que ser sempre o nosso papel, enquanto entidade pública.”
Durante a caminhada, os manifestantes, em menor número do que o de atos anteriores, gritavam palavras de ordem contra o governo e a favor do “Lula livre”. Para os organizadores, 30 mil pessoas participaram do ato. A Polícia Militar não fez estimativa.