A Ford deve definir no próximo ano a produção de um novo utilitário-esportivo (SUV) de médio porte, o Territory, para ampliar sua oferta de produtos no segmento que mais cresce em vendas no País. O modelo será lançado na China no início de 2019 No Brasil, será apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro.
O presidente da Ford, Lyle Watters, afirma que a apresentação do SUV, inicialmente, é para testar a receptividade do público brasileiro para, mais adiante, definir pela venda no Brasil. Fontes do setor automotivo, contudo, afirmam que a produção na região é praticamente certa, mas falta definir se será no Brasil ou na Argentina.
“É um produto que tem grande potencial para o mercado brasileiro”, concorda Watters, sem entrar em detalhes. O Territory é um modelo intermediário entre o EcoSport e o importado Edge e disputaria mercado com modelos como Jeep Compass e Volkswagen Tiguan, que custam até R$ 150 mil. O mercado de SUVs responde atualmente por 23,4% do mercado de automóveis e comerciais leves, ante 8,9% em 2011.
A Ford também mostrou na terça-feira, 23, outras novidades que levará para o Salão do Automóvel, entre as quais uma nova versão do EcoSport sem o estepe na traseira e com pneu especial que pode rodar mais de 200 km mesmo que esteja furado. Há também novas versões do Ka, do Edge e da Ranger.
Reestruturação
A empresa, quarta maior em vendas de automóveis e comerciais leves, com 9,38% de participação no mercado nacional, está em meio a um processo de reestruturação que pode resultar no enxugamento das operações no Brasil, segundo avaliam analistas.
A fábrica do ABC paulista, onde atualmente são produzidos apenas o modelo Fiesta e caminhões, tem sido alvo de preocupações dos trabalhadores e sindicalistas da região. Foram vendidas apenas 12.317 unidades do modelo neste ano e o fim de sua produção é esperado para breve. A unidade de caminhões também opera com alta ociosidade. “Manter uma fábrica com apenas um produto de baixa venda não faz sentido economicamente, mas não vejo riscos de a Ford sair do Brasil”, diz Paulo Cardamone, da consultoria Bright.
Segundo fontes do setor, o novo SUV Territory poderia ser uma alternativa para ocupar a linha da unidade de carros no ABC, mas a fábrica do grupo na Argentina, que a partir de 2019 deixará de produzir o modelo Focus, também é uma possibilidade.
“Estamos avaliando várias possibilidades para melhorar a lucratividade de nossas operações – assim como tem feito várias empresas do setor – , mas é prematuro falar sobre alguma planta específica, mas não há qualquer plano para fechar fábricas”, afirma Watters.
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Rota
A Ford também enfrenta outro problema que pode atrapalhar seus projetos para a filial de Camaçari (BA), onde são feitos o Ka – terceiro automóvel mais vendido no País, com 102.911 unidades das versões hatch e sedã – e EcoSport (25 mil unidades neste ano).
Uma emenda incluída no programa Rota 2030, a nova política industrial do setor, propõe a extensão do regime especial do Nordeste, que venceria em 2020, para 2025. O programa estabelece incentivos fiscais para montadoras instaladas na região. Alterações na medida, contudo, favoreceriam a Fiat/Jeep, com fábrica em Goiana (PE), e prejudicariam a Ford.
Uma reunião na comissão do Senado para discutir o tema na terça-feira foi transferida para esta quarta-feira, 24, pois não há consenso entre as partes. O impasse pode inviabilizar a votação da Medida Provisória do Rota, e o setor automotivo ficaria sem o programa.
“Para nós, o mais importante agora é aprovar o Rota 2030, e deixar o programa regional do Nordeste para ser discutido mais à frente, já que teremos dois anos pela frente para fazer isso e tenho otimismo de que o próximo governo vai avaliar esse tema”, afirma Watters.