O primeiro debate do segundo turno da disputa pelo governo de São Paulo, promovido na noite desta quinta-feira, 18, pela TV Bandeirantes, refletiu o clima belicoso que tem marcado a campanha estadual. Frente a frente em uma mesa no estúdio da emissora, o ex-prefeito João Doria, candidato do PSDB, e o governador Márcio França, que tenta a reeleição pelo PSB, trocaram acusações e até agressões verbais. No evento, propostas ficaram em segundo plano.
Doria e França estão tecnicamente empatados na disputa no segundo turno, conforme a mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada na quarta-feira, 17. O tucano tem 52% dos votos válidos – quando são excluídos os brancos, nulos e indecisos – e o governador, 48%. A margem de erro é de três pontos, para mais ou para menos.
Um clima tenso dominou já o primeiro bloco. Os candidatos mantiveram as estratégias apresentadas até agora: enquanto o tucano chamou França de “esquerdista” e disse que o pessebista mantém laços com o PT, o governador classificou o ex-prefeito como “traidor” e afirmou que ele foi beneficiado por gestões petistas no governo federal.
Doria insistiu na tática de se associar e exaltar o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, e acusou França de esconder o nome de sua legenda. “Você é do Partido Socialista Brasileiro, seu chefe da Casa Civil é Aldo Rebelo, que foi do PCdoB”, afirmou o tucano.
“Nunca escondi e não traio o meu partido, diferentemente de você, que traiu Geraldo Alckmin”, rebateu França. “O Bolsonaro é um cara simples, nada a ver com você. Ele é um coitado por ter que arrastar você.”
Inflamada pelo confronto, a plateia no estúdio se dividiu entre xingamentos, vaias e aplausos, o que levou o mediador, Fábio Pannunzio, a fazer reiteradas intervenções e ameaças de retirar correligionários do local.
Na troca de acusações, França afirmou que Doria recebeu dinheiro do BNDES para comprar um jatinho e o tucano fez referência ao suposto apelido do candidato do PSB – “Paris” – na lista da delação da Odebrecht. “Se você encontrar meu nome em alguma lista, João, eu renuncio ao meu mandato como governador”, reagiu França.
Nos 25 minutos do primeiro bloco, os candidatos trocaram xingamentos: “Você está neurótico com essa coisa de PT”, afirmou França, lembrando que o candidato foi esnobado por Bolsonaro quando tentou encontrá-lo, no Rio. “Somos muito diferentes, eu não sou carreirista”, retrucou o tucano. “Você é carreirista do setor público.”
Em outro momento de desconstrução partidária, França disse que o povo de São Paulo “não quer PT nem PSDB”. Doria rebateu e afirmou que o adversário, do PSB, quer “ficar laranjinha como o partido Novo”.
No segundo bloco, o mediador chegou a dizer que pessoas que estavam se manifestando na plateia seriam retiradas do debate.
Propostas
O clima se acalmou um pouco quando os candidatos começaram a falar de propostas. França procurou capitalizar o acordo feito com a prefeitura de Guarulhos no qual o serviço de abastecimento de água e coleta de esgoto deixará de ser municipal e passará a ser feito pela Sabesp, empresa do Estado. Doria prometeu despoluir os últimos 100 km do Rio Tietê que estão contaminados por meio de Parceria Público-Privada.
Ainda assim, os candidatos aproveitaram qualquer brecha para atacar o rival. França afirmou que Doria era amigo do empresário Eike Batista, que chegou a ser preso e foi condenado na Operação Lava Jato. O governador repetiu que não traiu Alckmin e disse que, antes de escolher seu partido ou ideologia, escolheu ter caráter.
Ao ser criticado por França sobre a rua que anexou à sua propriedade em Campos do Jordão e depois foi comprada pelo tucano, Doria disse que a família do governador tem uma ilha no litoral de São Paulo e precatórios a receber do Estado.
No último bloco, França exaltou o apoio de Paulo Skaf, candidato derrotado do MDB, e o Sesi, que foi usado como vitrine pelo emedebista. “Você falou mal do Paulo Skaf durante todo o primeiro turno, mas agora exalta ele. Esse programa do Sesi com pagamento não é a melhor alternativa”, respondeu Doria.
O tucano ainda chamou Skaf de “imperador da Fiesp”, e disse que o emedebista “modificou duas vezes” o estatuto da entidade para ficar lá.